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Bahia e samba inspiraram Mick Jagger a compor 'Sympathy for the Devil'

Canção abre o álbum 'Beggars Banquet', que fez 50 anos e acaba de ganhar edição remasterizada

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Beggars Banquet (50th Anniversary Edition)

  • Quando Lançamento nacional apenas nas plataformas digitais
  • Autor Rolling Stones
  • Gravadora Universal

O álbum “Beggars Banquet” (banquete dos mendigos), que fez 50 anos e ganhou uma edição remasterizada em dezembro de 2018, tem um lugar muito especial na discografia dos Rolling Stones. E mais ainda para os fãs brasileiros, pois sua música de abertura, “Sympathy for the Devil”, foi inspirada no samba.

Mick Jagger esteve no Rio de Janeiro e na Bahia em janeiro de 1968, onde assistiu a festas populares e a eventos de umbanda.

“Ficávamos deitados na praia ou brincando com as crianças de uma casa próxima, curtindo. Tocávamos tambores com os negros do candomblé”, lembrou Jagger durante uma entrevista para a revista americana Esquire, no ano seguinte.

E para a revista Manchete, de janeiro de 1969: “Passamos lá [Bahia] um tempão. Todas as noites ficávamos até o nascer do sol tocado música brasileira, principalmente com tambores. Gente genial, aquela”.

Disse também que “Sympathy for the Devil” (afeição pelo demônio) era um “samba com ritmo forte e marcado”. Em 1975, em outra passagem pelo Brasil, Jagger afirmaria a jornalistas brasileiros. “Yeah, é um samba mesmo, sabe? Não dentro da conceituação formal, mas dentro da minha cabeça. Pouco me importa se não parecer.”

Jagger chegou ao país com sua namorada Marianne Faithfull e o filho dela, Nicholas. Após passagens pelo Rio, Salvador e Itapuã, esteve também na baiana Arembepe, onde fotos suas tocando tambor sobreviveram para contar a história. 

O livro “Os Rolling Stones no Brasil” (Ampersand Editora, 2000, esgotado), de Nélio Rodrigues, trata dessa e de outras viagens dos músicos por aqui —incluindo a de dezembro de 1968, na qual Jagger e Richards compuseram “Honky Tonk Women” em uma fazenda de Walther Moreira Salles em Matão, no interior de São Paulo.

Talvez “Sympathy for the Devil” não pareça exatamente um samba para nós brasileiros porque, ao gravar a música, os Rolling Stones usaram músicos africanos. Parte da gravação, feita em junho de 1968, está registrada no filme “One Plus One”, de Jean-Luc Godard, que depois teve o título alterado para o mesmo nome da música.

Em janeiro de 1968, Jagger veio descansar após o atribulado ano de 1967, quando ele e Keith Richards foram presos e condenados a três meses e um ano de prisão, respectivamente, por porte de drogas. 

Chegaram a ir para a cadeia por alguns dias, mas a imprensa inglesa saiu em defesa da dupla, afirmando que a Justiça estava esmagando uma “borboleta com um rolo compressor”, conforme editorial do The Times. Acabaram em liberdade condicional.

Além disso, naquele mesmo ano, os Rolling Stones haviam lançado “Their Satanic Majesties Request”, um álbum psicodélico, barroco e cheio de efeitos sonoros que tentava seguir a revolução imposta pelos Beatles com “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”. Ficou aquém das expectativas, tanto crítica quanto comercialmente.

Por isso, em 1968 os Stones deram um basta nas viagens lisérgicas e voltaram ao rock de raiz, iniciando com “Beggars Banquet” a tetralogia de seus principais álbuns, seguindo com “Let It Bleed” (1969), “Sticky Fingers” (1971) e “Exile on Main Street” (1972).

Essa mudança foi inicialmente anunciada, em maio de 1968, com o compacto “Jumpin’ Jack Flash”, que chegou ao primeiro lugar nos Estados Unidos e na Inglaterra e mostrou que o velho rock com guitarras distorcidas era o caminho a seguir.

Assim, “Beggars Banquet” traz outros pesos-pesados, como “Street Fighting Man” e “Stray Cat Blues”. 
“Parachute Woman” e “Prodigal Son” aproximavam a banda dos blueseiros do Mississippi, movimento que seria acentuado nos discos seguintes. Já as baladas “No Expectations” e “Salt of the Earth” parecem rascunhos para as mais bem acabadas “Love in Vain” e “You Can’t Always Get What You Want”, que seriam lançadas em 1969.

Nessa mudança de rumo, os Stones não se deram inicialmente bem: o disco chegou apenas ao terceiro lugar na Inglaterra, como havia sido com o estranho álbum anterior. 

Mas, a longo prazo, o conceito deu certo. Os quatro LPs posteriores conseguiram ficar em primeiro lugar em vendas.

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