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Cinema

'Yara' apresenta amor entre jovens de maneira delicada e comovente

Longa se passa em vilarejo de um monumental vale e contrapõe moderno e arcaico no Líbano rural

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Yara (Idem)

  • Quando estreia nesta quinta (10)
  • Classificação Livre
  • Elenco Michelle Wehbe, Elias Freifer, Mary Alkady
  • Produção Líbano, Iraque, França (2018)
  • Direção Abbas Fahdel

Veja salas e horários de exibição

“Yara” é um bem-vindo oásis no turbulento mundo atual. O longa do talentoso diretor franco-iraquiano Abbas Fahdel é daquelas obras que tentam —e quase sempre conseguem— permitir ao espectador citadino uma imersão capaz de transportá-lo a outro ambiente, mais sereno e simples, além de belo.

No caso, um vilarejo semiabandonado em um majestoso vale no Líbano. A Yara do título é uma adolescente que vive com a avó em um casebre da região. Pouco se sabe da garota, mas ela tem modos e roupas suficientemente urbanos para se intuir que não morou sempre ali. Já a avó é uma camponesa que claramente passou toda sua longa vida no local.

O cotidiano não vai muito além de cuidar de bichos, lavar roupa, comer e dormir. E momentos de não fazer nada, apenas ver a vida passar; nem parece que o caos sírio está a poucos quilômetros dali.

O dia a dia de Yara muda depois que um jovem forasteiro aparece por lá e com ela faz amizade. Dá novo sentido a sua rotina.

Na primeira vez em que se veem, Yara está estendendo roupas e, discreta, esconde uma calcinha do varal para que o rapaz não a note. Segundos depois, o moço se abaixa para beber água e, displicente, deixa parte da própria cueca à mostra. Além de falar sobre as diferenças entre liberdade masculina e feminina no Líbano, a cena exemplifica o tipo de sensualidade meigamente pudica —embora jamais puritana— que Fahdel capta nos instantes de flerte entre os jovens. São cenas delicadas, com um tipo de pureza que o cinema parecia ter deixado de lado.  

Fahdel registra diversos signos para contrapor moderno e arcaico no Líbano rural. Por exemplo: a idosa contrasta com seu par de tênis ultraurbanos, e o silêncio quase total do vale é quebrado pelo ruidoso toque de celular do rapaz. E tais elementos nunca surgem de modo forçado, inorgânico; é como se já estivessem ali, apenas à espera da câmera —o filme tem um forte aspecto documental.

O mergulho do espectador é viabilizado por um procedimento simples: a sábia inserção de cenas de paisagem (de bichos, plantas, do relevo) ao longo de toda a projeção. É bem verdade que, na reta final, esboça-se um certo tédio, mas o refúgio de uma hora e meia naquele recanto isolado, diante da descoberta de um amor tão inocente entre jovens, é uma experiência mais que agradável: é também comovente.

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