Caixa corta patrocínio e Cine Belas Artes pode fechar em dois meses

Banco não renovou suporte ao cinema de rua em São Paulo, no que pode ser o primeiro grande corte da instituição sob Bolsonaro

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

A partir da próxima quinta (28), o Caixa Belas Artes voltará a ser apenas Belas Artes.

E, caso não encontre novos patrocínios, o local —um dos mais famosos cinemas de rua de São Paulo e do país— pode fechar em dois meses.

Esse é o prazo que o dono do Belas Artes, André Sturm, diz ter acertado com o proprietário do imóvel onde estão as seis salas do cinema, inaugurado com este nome em 1967; o aluguel custa quase R$ 2 milhões ao ano.

Segundo Sturm, a Caixa Econômica Federal notificou-o em janeiro solicitando o fim da exibição da marca, no que pode ser o primeiro grande corte do banco estatal sob a gestão Jair Bolsonaro.

Fachada do cinema Caixa Belas Artes
Fachada do cinema Caixa Belas Artes, que deve voltar a ser Belas Artes - Leticia Godoy/Divulgação

A Caixa confirmou a interrupção. Em nota enviada à Folha, o banco diz que “os contratos de patrocínio estão sob análise” e que "demandas relativas aos projetos culturais e seus desdobramentos são tratadas diretamente com os proponentes ou patrocinados".

Ex-secretário municipal de Cultura —substituído em janeiro por Alê Youssef—, Sturm ressalta que o apoio da Caixa ao Belas Artes "nunca se deu por Lei Rouanet nem por benevolência ou filantropia", mas por uma operação de marketing que, segundo ele, é lucrativa para o incentivador.

A marca, ele diz, somou 1.150 citações na mídia em 2018, o equivalente a R$ 6,5 milhões no mercado publicitário.

Agora, encontrar novos patrocinadores é a única alternativa para manter vivo o cinema, diz Sturm, que afirma já manter contatos com marcas interessadas que prefere não mencionar.

Situado na esquina da avenida Paulista com a rua da Consolação, o Belas Artes é celebrado por público e críticos pela curadoria diversificada —na comparação com o cardápio das redes que dominam os shopping centers, modelo de exibição predominante no país, o local exibe mais filmes, por mais tempo e com mais atenção à produção nacional.

O local também é notório por promover séries especiais dedicadas a cineastas e filmes clássicos, como as mostras em homenagem a Cacá Diegues e a Grande Otelo, em 2017 e 2018, e a exposição de longas do diretor russo Andrei Tarkovski, em 2018.

"É um espaço de oferta cultural, uma âncora contra a dominação cultural. Hoje, você vai aos diversos cinemas de shoppings, seja em bairros centrais ou periféricos, e vê uma pasteurização, a mesma lista de filmes; só muda se é dublado ou legendado. E no Belas Artes as estreias ficam em cartaz por mais tempo.”

O encerramento do patrocínio da Caixa é um novo capítulo na história recente de resistência do Belas Artes.

O local ficou fechado de 2011 a 2014, quando foi reaberto sob a bandeira da Caixa, após grande mobilização de políticos e sociedade civil, incluindo um Movimento Cine Belas Artes.

O cinema foi escolhido o de melhor atendimento pelo público ouvido pelo Datafolha na mais recente avaliação do Guia Folha.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.