Descrição de chapéu Artes Cênicas

'A Catástrofe do Sucesso' costura os fracassados de Tennessee Williams

Montagem dirigida por Marco Antônio Pâmio estreia nesta sexta em SP

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São Paulo

Tennessee Williams não lidava bem com a fama. No fim de 1947, passada a avalanche do sucesso de “A Margem da Vida” e prestes a estrear “Um Bonde Chamado Desejo”, ele relatava num artigo publicado no New York Times como foi “arrancado do anonimato e atirado aos píncaros de uma fama repentina”. 

“Pergunte a qualquer um que experimentou esse tipo de sucesso de que estou falando —de que adianta?”, escreveu o dramaturgo americano no texto, que ganhou o título “A Catástrofe do Sucesso”.

 

Não à toa são trechos do artigo que contornam um espetáculo homônimo, projeto do diretor Marco Antônio Pâmio e da atriz Camila dos Anjos. A montagem utiliza o desabafo do autor para costurar duas peças curtas de Williams que trazem seus costumeiros personagens fracassados —em situações muito opostas ao sucesso repentino que ele tanto criticava.

Suas figuras perdidas são projeções de experiências vividas pelo próprio autor, que se baseava em conflitos de sua família na hora de criar as tramas. A mãe era uma mulher opressora e de temperamento instável. O pai, alcoólatra. Já a irmã Rose passou por um longo tratamento psiquiátrico e uma lobotomia que a incapacitou pelo resto da vida. 

Foi a partir dali que o dramaturgo traduziu em cena “essas criaturas meio diáfanas, que não conseguem pertencer às convenções”, diz Pâmio.

“A Catástrofe do Sucesso”, a montagem que estreia nesta sexta (8), intercala o artigo com “Mister Paradise”, sobre uma jovem que se encanta com um poeta e descobre que ele vive, por opção, recluso e esquecido (uma clara alusão ao próprio dramaturgo); e “Fala Comigo Como a Chuva e me Deixa Escutar”, em que um casal vê o relacionamento ruir, mas não consegue se livrar das próprias amarras. 

O espetáculo, criado dentro de um projeto de residência artística do Instituto Capobianco, é um desdobramento de outro trabalho, feito por Pâmio e Camila há cinco anos: “Propriedades Condenadas” reunia outros dois textos de Williams, “Esta Propriedade Está Condenada” e “Por que Você Fuma Tanto, Lily?”.

Se na primeira montagem as diferentes tramas de Williams eram resumidas num cenário todo desenhado em giz branco sobre um quadro negro, agora o minimalismo se repete na cenografia, porém com outro elemento. 

Camila e o ator Iuri Saraiva, com quem ela divide a cena, manipulam, num espaço todo preto, uma sequência de fios brancos. São eles que dão formas a diversos elementos, como portas, móveis e janelas.

É uma forma de aludir à costura que se faz dos textos de Williams e também “a esses personagens, que estão enroscados, emaranhados um no outro”, afirma o diretor. Ou mesmo do próprio dramaturgo, que não lograva se desvencilhar das próprias tragédias.

A Catástrofe do Sucesso

  • Quando De 8/3 a 28/4. Sex. e sáb., às 20h, dom., às 18h
  • Onde Instituto Cultural Capobianco, r. Álvaro de Carvalho, 97
  • Preço R$ 30
  • Classificação 14 anos
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