'Não tenho o menor interesse por crimes comuns', diz Boris Fausto

Escritor lançou o livro 'O Crime da Galeria de Cristal', incursão por crimes hediondos no Brasil do começo do século 20

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São Paulo

​Há 25 anos, quando leu sobre o caso de uma mulher que matou o ex-marido para “lavar a honra”, o historiador Boris Fausto logo se interessou pela história. Afinal, isso era raro, já que esse tipo de assassinato costumava ser cometido por homens, afirma o escritor.

Hoje, embora esse e outros dois casos estejam no livro “O Crime da Galeria de Cristal” (ed. Companhia das Letras, R$ 64,90, 256 págs.), Fausto diz ter receio de acabar escrevendo mais do mesmo. “Esses eram os crimes espantosos da época. Atualmente, existe tanto crime que eles se banalizaram”, afirmou o autor no evento de lançamento do livro realizado pela Folha e pela Companhia das Letras na última segunda-feira (25), na Livraria da Vila.

O historiador Boris Fausto, que lança novo livro - Karime Xavier/Folhapress

O historiador recorre ao passado, às duas primeiras décadas do século 20, e extrapola os crimes em si. Ou, como explica a também historiadora Lilia Schwarcz, que mediou a conversa, a partir dos crimes, Fausto faz um raio-X de uma São Paulo em ebulição, que ia das tensões dos imigrantes à entrada das mulheres no debate público.

Em nenhum momento até então, seria possível que uma mulher acusada de matar um bacharel fosse absolvida e, ainda durante o julgamento, pedisse por uma reforma do Código Penal, afirma o escritor.

Outra análise que faz no livro é sobre a imprensa e como ela ganha um papel de formador de opinião na década de 1920. Segundo ele, do sensacionalismo das notícias ao costume de apregoar as manchetes do dia nas sedes dos jornais, começou-se a criar uma cultura de boca a boca entre os leitores.

Como valor histórico, para Fausto, os jornais são “minas”, porque servem tanto como fonte de ideias quanto como material de pesquisa. No caso desses crimes, as transcrições do júri publicadas em jornais como o Correio Paulistano se mostraram importantes, uma vez que todos os documentos dos processos criminais foram perdidos.

Na conversa na Livraria da Vila, Lilia perguntou sobre um trecho em que Fausto descreve um corpo encontrado esquartejado dentro de uma mala: “‘O morto trajava um paletó, colete e calça de caxemira escura, com listras amarelas e roxas, ceroula de meia, camisa branca de zefir, punhos com botões de ouro, colarinho duplo fechado, também com botão de ouro e gravata de seda escura’. Dá para ver que ele não esquartejou tão bem assim.”

O autor respondeu que, "partindo de certos fatos", procurou "trabalhar com a imaginação". "O limite é não fazer ficção”, disse. Embora alguns colegas já o tenham incentivado a escrever ficção, Fausto diz que “não dá certo". "O amor à história prevalece.”

Antes de “O Crime da Galeria de Cristal”, Fausto já havia se aventurado pelo tema em “Crime e Cotidiano” e “O Crime do Restaurante Chinês”.

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