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Vencedor do Pritzker uniu conhecimento das tradições a ousadia contemporânea

Arata Isozaki se destacou por seus projetos construídos e por obra teórica sobre as tradições japonesas

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Nara Centennial Hall, de Arata Isozaki, no Japão - Hisao Suzuki/Divulgação
Gabriel Kogan
São Paulo

Com o anúncio na tarde desta terça (5) do Pritzker –prêmio máximo da arquitetura, oferecido pelo conjunto da obra, e tido como o Nobel da área— para Arata Isozaki, o Japão iguala-se aos Estados Unidos como o país que mais recebeu a condecorações, sete ao total; incluindo nomes como Tadao Ando (1995), Kazuyo Sejima e Ryue Nishizawa (2010), Toyo Ito (2013) e Shigeru Ban (2014).

Reconhecido como mestre e pensador da arquitetura japonesa, Isozaki, 87, se destacou desde os anos 1960, não apenas por seus projetos construídos, como também por sua obra teórica sobre intersecções da tradição budista e xintoísta com o pensamento moderno ocidental.

Em 1959, Isozaki negou ingressar em um movimento fundado por jovens e ousados arquitetos japoneses liderados por Kiyori Kikutake e Kisho Kurokawa: o Metabolismo, considerado por Rem Koolhaas (Pritzker em 2000) como o “último movimento a mudar a arquitetura”.

Isozaki era livre e autônomo demais para ingressar em qualquer movimento, além de se opor abertamente à visão deslumbrada com o desenvolvimento industrial: “Minha única dúvida sobre os metabolistas era que esses arquitetos não tinham nenhum ceticismo sobre suas utopias; representavam apenas uma forma de progressismo” afirmou em 2005.

Apesar de não aderir formalmente ao Metabolismo, permaneceu como assíduo colaborador e agitador cultural do metiê nos anos 60, além de fazer projetos análogos aos de seus contemporâneos como uma cidade que se expandia pelos ares como árvores de concreto.

Enquanto trabalhava para Kenzo Tange (​Pritzker em 1987), participou da elaboração do revolucionário plano para a Baia de Tokyo 1960, no qual os arquitetos propunham a expansão da cidade sobre o mar, por meio de superestruturas de transporte rápido e edifícios para milhares de pessoas.

Para a Expo de Osaka em 1970, Isozaki contribuiu para o plano diretor da feira e projetou dois gigantescos robôs, Deme e Deku, com 7,30 m de altura que se moviam e piscavam rodeados pelos visitantes. De dentro das esferas de vidro ——os olhos do robô diretores da feira davam orientações para as performances mecatrônicas.

O pioneirismo de Tange dos anos 1940 e 1950 de reinterpretar a arquitetura moderna ocidental no Japão se desdobrou e se expandiu pelas mãos e textos de Isozaki nas décadas seguintes: o país que na primeira metade do século 20 digeria a produção europeia, passava a partir dos anos 1960 e 1970, a ser abraçada e admirada pelo Ocidente.

O Japão atraía atenção então por sua autêntica arquitetura moderna. “Na minha geração, Isozaki foi o intelectual da arquitetura mais admirado no mundo; com sua autonomia de pensamento de alcance internacional; ele surgia como o arquiteto de um Japão que estava dando certo”, lembra André Corrêa do Lago, membro do júri do Pritzker e embaixador do Brasil em Tokyo entre 2014 e 2018.

Isozaki sempre manteve pontos de contato entre seu país de origem e o resto do mundo; o dentro e o fora. Enquanto produzia na América, como o Museu de Arte Contemporânea de Los Angeles (1986), desenvolvia teorias sobre as características japonesas da arquitetura buscando identificar elementos orientais únicos.

Nessa toada, escreve textos sintetizados em livros como Japan-ness in Architecture (2006, MIT Press, R$130,00) e Katsura Villa: Space and Form (Rizzoli, 1987, esgotado) sobre as origens das composições do espaço japonês a partir de discussão de obras históricas como o Templo de Ise (690 D.C) e a Villa Katsura (Século 16 e 17).

“O prêmio leva muito em consideração a influência, ou seja, como um arquiteto teve, tem ou deveria ter impacto sobre outros; nesse sentido, a arquitetura não é só estética, a teoria também é fundamental”, sintetiza Corrêa do Lago, atualmente embaixador do Brasil na Índia.

O júri do Pritzker destacou não apenas suas obras históricas como a Biblioteca da Prefeitura de Ōita (1966), em concreto armado aparente, como também obras recentes como a Sinfônica de Xangai (2014) e a Allianz Tower em Milão (2014).

O arquiteto japonês transitou entre diversas linguagens, incluindo o pós-modernismo, no qual adere no final dos anos 70. Mesmo nessas obras, consideradas datadas pela crítica, Isozaki consegue ainda convencer pela qualidade espacial.

Após premiar Balkrishna Doshi em 2018 – arquiteto indiano hoje com 91 anos, colaborador de Le Corbusier nos anos 50 –, o Prêmio Pritzker sinaliza uma tendência em premiar arquitetos experientes, com obras maduras. O júri tenta se afastar de controversas premiações recentes como as de Alejandro Aravena (2016) e RCR Arquitectes (2017), considerados arquitetos em meio de carreira, sem consenso internacional sobre a força de suas obras construídas.

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