SP-Arte começa com expectativa de escalada nas vendas, mas abarca menos galerias

Evento conseguiu elevar faturamento em 2018, interrompendo três anos seguidos de queda

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"Mirror (Grey)", instalação de Anish Kapoor de 2017 exibida no estande da Lisson Gallery na SP-Arte/2019 Cortesia Anish Kapoor e Lisson Gallery/Divulgação

São Paulo

Depois de surpreender no ano passado com um aumento expressivo nas vendas, interrompendo três anos seguidos de queda, a SP-Arte chega à sua 15ª edição.

Os resultados, no entanto, não levaram a maior feira de arte da América Latina a retomar a forte expansão que marcou sua primeira década.

Esta é a primeira edição em que a quantidade total de galerias de arte e design escaladas se mantém estável em relação ao ano anterior, com o número estacionado em 164.

Quando a conta se refere só às galerias de arte, porém, este é o terceiro ano marcado por uma diminuição —de 134 em 2017, ele foi para 131 em 2018 e não passa de 120 neste ano.

A presença das galerias internacionais também encolheu cerca de 20% desde o auge da internacionalização da feira, há quatro anos.

Só do ano passado para cá, a SP-Arte perdeu a presença das poderosas Marian Goodman e White Cube, apesar de ter mantido nomes como a americana David Zwirner, a britânica Lisson e a alemã Neugerriemschneider.

Serão elas as responsáveis por trazer ao pavilhão da Bienal pesos-pesados da arte contemporânea internacional, como o chinês Ai Weiwei, o indiano Anish Kapoor, o francês Daniel Buren e o dinamarquês Olafur Eliasson.

Na visão da idealizadora do evento, Fernanda Feitosa, os números não indicam um esvaziamento da feira, considerada a maior do hemisfério.

“Nós acompanhamos o crescimento do mercado nacional, quando o Brasil despontou como o país do futuro”, afirma. “Agora, estamos tentando sair de três anos de estagnação. Não dá para ir contra a maré do país.”

Feitosa acrescenta que a bola da vez para as galerias estrangeiras é a China, terceiro maior mercado de arte do mundo segundo um estudo do grupo Art Basel, que controla as maiores feiras do planeta.

O clima entre os galeristas é, no entanto, de certo otimismo. Alguns, como Thiago Gomide, da Bergamin & Gomide, afirmam que em 2018 fizeram sua melhor feira em anos.

“Eu fui camicase. O mercado estava horrível e, em vez de ir com o rabo entre as pernas, levei um Günther Uecker de € 300 mil [cerca de R$ 1,2 milhão na época], um Nuno Ramos dos anos 1980”, relembra. Vendeu dez das 12 peças que mostrou no estande.

Gomide repetirá o plano nesta edição. Ele terá à venda trabalhos de Louise Bourgeois, Robert Rauschenberg e Ellsworth Kelly com preços que vão de cerca de R$ 135 mil a quase R$ 3 milhões.

Outros espaços tentam driblar a crise com uma mescla de obras acessíveis, de artistas emergentes, e 
nomes consagrados, mais reconhecidos no mercado.

“O momento é de abrir o maior leque possível, para contemplar todo tipo de cliente”, diz a galerista Luciana Brito. Em seu estande, a faixa de preços varia dos R$ 6.000 aos R$ 3 milhões.

O otimismo não é injustificado. Segundo o estudo mais recente da plataforma Latitude, que representa 51 galerias brasileiras, o mercado de arte nacional superou no ano passado o momento recessivo dos anteriores. Só o volume de peças vendidas nos dois últimos anos aumentou para metade dos 45 entrevistados.

“Acho que o colecionador está cansado de tempos complicados”, avalia Luisa Strina, uma das galeristas mais poderosas e influentes do país.

Se o cenário no mercado de arte nacional pode indicar uma tímida recuperação, motivada pela confiança na aprovação da reforma da Previdência por parte de muitos galeristas, a SP-Arte representa uma ilha de esperança.

Muitos marchands descrevem o evento como o pico dos negócios no ano. “É quase um 13º salário”, diz Nara Roesler, que tem galerias em São Paulo, Rio de Janeiro e Nova York. 

O motivo é, em parte, a isenção de impostos que as galerias paulistanas recebem do governo estadual sobre os trabalhos vendidos na feira. O desconto, que depende de um acordo temporário com a Receita paulista, ainda se aplica a obras brasileiras ou estrangeiras trazidas do exterior.

Além da isenção, a SP-Arte também é beneficiada pela Lei Rouanet. Neste ano, foi autorizada a captar cerca de R$ 2,6 milhões pelo mecanismo de incentivo, dos quais conseguiu quase metade até agora.

Outra razão para a alta dos negócios, opinam os galeristas, é o verdadeiro frenesi que toma conta da feira. Com a concorrência acirrada, os espaços separam suas melhores peças para o evento.

Há quem vá além, como Nara Roesler, que ao longo do ano pede aos artistas representados para produzirem trabalhos especiais para a ocasião. 

Já há alguns anos, o clima de ostentação contamina também museus, espaços culturais e galerias pela cidade.

Em ano sem bienal, a feira impulsiona no período a inauguração de mostras institucionais como “Tarsila Popular” e “Lina Bo Bardi: Habitat”, que começam nesta semana no Masp, e “Sopro”, retrospectiva de Ernesto Neto em cartaz na Pinacoteca.

Além delas, acontecem ainda exposições relevantes em galerias, visitas a ateliês, lançamentos de livros e conversas. Um panorama que, considerando só a programação oficial da SP-Arte, soma ao menos 70 eventos.

Este ano, a expansão ainda ganha contornos literais com o acréscimo de um novo setor além dos já conhecidos. Sob o comando de Cauê Alves, diretor artístico do Museu Brasileiro de Escultura, a nova ala reúne obras de grandes dimensões espalhadas pelo gramado do Ibirapuera.

SP-Arte - Pavilhão da Bienal - pq. Ibirapuera, portão 3, Qui. a sáb.: 13h às 21h. Dom.: 11h às 19h. De qua. (3) a sex. (7). Livre. Ingr.: R$ 50. Menores de 10 anos: grátis

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