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Joia visual, fotobiografia de Chico Buarque decepciona quem busca informações

Livro reúne 210 imagens do compositor selecionadas por Augusto Lins Soares

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Foto de Chico Buarque do livro 'Revela-te, Chico - Uma Fotobiografia', organizado por Augusto Lins Soares Reprodução

Revela-te, Chico - Uma Fotobiografia

  • Preço R$ 145 (240 págs.), em promoção por R$ 75
  • Autor Augusto Lins Soares (org.)
  • Editora Bem-Te-Vi

Muito já se quis, no mundo literário, render Chico Buarque por inteiro. Especialmente à beira de efemérides, escritores batem à porta de seu empresário para tentar a sorte perguntando: “Será que o Chico topa uma biografia?”. Falo com propriedade, porque sou uma das muitas que já arriscaram o pedido. A resposta —para mim e todo mundo— foi sempre a mesma: não.

Aos 74 anos de idade e 53 de música, Chico nunca encarou integralmente a delação de seus detalhes. Não impede, mas também não favorece. Ele deu, é fato, longas entrevistas a jornalistas como Regina Zappa e Humberto Werneck, que tiveram, a partir da concessão excepcional, a sorte de construir bem-sucedidos exemplos de “reportagens biográficas”. Mas biografia para valer, daquelas completas e minuciosas, essa, por enquanto, nada.

Este contexto é fundamental para compreender a chegada, agora, de “Revela-te, Chico - Uma Fotobiografia” (ed. Bem-Te-Vi, 240 págs.). Organizado por Augusto Lins Soares, o livro apresenta 210 fotografias selecionadas ao longo de dois anos. Propõe-se, assim, a contar um pouco da vida de Chico aos admiradores ávidos por suas memórias, ainda que apenas por meio de dados já conhecidos e imagens nem tanto. 

No retrato que abre a publicação, Chico está de costas para a lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, vestindo cacharrel vermelha, meias vinho e calça cáqui. Tem os pés apoiados na caixa do violão, em uma pose de 1967. O fotógrafo americano David Drew Zingg, provavelmente deitado no chão, capturou o rosto sério de Chico, à época com apenas 23 anos.

Galgadas as outras imagens que servem como introdução —um Chico de sunga em 1973, outro sorrindo de bigode em 1974—, segue-se à apresentação assinada por Lins Soares e, então, às fotografias que constroem, se não uma cronologia exata, uma linha do tempo que se presta muito mais a registrar visualmente momentos marcantes do que oferecer ao leitor revelações.

As legendas, de autoria do jornalista e escritor Joaquim Ferreira dos Santos, têm um tom quase superficial, seja pelo tamanho escasso, seja por uma decisão editorial de seguir na linha chapa-branca comum às “quase biografias” sobre Chico disponíveis até hoje. Também não se descobre em momento algum de onde foram extraídas várias das aspas citadas, se vêm de entrevistas exclusivas ou se são reproduções.

“Revela-te, Chico” é, em resumo, uma joia visual, mas que decepciona quem busca informações além das já apresentadas em livros, entrevistas e até mesmo verbetes na internet. Nesse ponto, vale destacar o capítulo final, com obras de artistas plásticos feitas sob encomenda, além da reprodução da tela que Di Cavalcanti pintou para Chico em 1972.

Voltando às 210 fotografias, em 30 delas, por exemplo, Chico segura um cigarro. O fumante atroz do passado, no entanto, hoje em dia dá apenas uns tragos, e a um biógrafo eficiente basta um telefonema para saber isso. “Revela-te, Chico” ainda assim opta por deixar de fora informações crocantes como essa, presenteando com a missão de revelá-las aquele que venha a se arriscar a escrever uma biografia de verdade sobre Chico no futuro. Sigamos tentando.

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