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Alice Caymmi vai à essência de cada canção em novo disco

Em seu quarto álbum 'Electra', cantora prova por que está acima do que se canta hoje

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Electra

  • Onde Nas plataformas digitais
  • Autor Alice Caymmi
  • Gravadora Selo Joia Moderna

A audição de “Electra”, quarto álbum de Alice Caymmi, passa a sensação de ouvir um disco que seria a evolução de seu segundo trabalho, “Rainha dos Raios”, de 2014. Nos dois, há uma forte inventividade na recriação de canções de outros autores. Desta vez, a cantora optou pelo formato voz e piano, contando com o experiente Itamar Assiere nos teclados.

Quase um João Donato de sua geração, Assiere tece uma base impecável para o repertório. Suas escolhas são fundamentais para provar como Caymmi é uma cantora diferenciada na nova geração.

O disco não trilha o caminho de grandes sucessos do passado. Na verdade, todas as faixas têm assinaturas famosas, mas estão bem longe do grupo das mais conhecidas de seus autores.

Caso exemplar é “Fracassos”, de Raimundo Fagner, que recebe uma interpretação quase acanhada, mesmo na voz poderosa de Caymmi. Faz contraponto, por exemplo, a “Medo”, exagero dramático do universo da portuguesa Amália Rodrigues.

A cantora vai buscar “Mãe (Mãe Solteira)” entre as faixas de “Estudando o Samba” (1976), disco de Tom Zé que a cada dia ganha mais relevância para as novas gerações.

Mais obscura é “Pelo Amor de Deus”, que Tim Maia lançou em 1972. O garimpo de Caymmi extrai dele uma canção que merecia mesmo uma revigorada. A gravação de Tim sufocou um pouco a música, que com ela ganha aura de hit.

Adorada pelos modernos de plantão, Caymmi faz algumas incursões no samba que trazem surpresa. Ela abre o álbum com “De Qualquer Maneira”, de Candeia, depois passa por “Aperta Outro”, de seu pai, Danilo Caymmi. Em um dos grande momentos, escolhe “Pedra Falsa”, de Paulo César Pinheiro e Mauro Duarte.

Para não deixar que o disco seja tratado integralmente como uma arqueologia musical de composições antigas, ela inclui “Areia Fina”, de Lucas Vasconcellos. A embocadura da cantora para chegar à essência de cada canção escolhida faz esta soar em harmonia com a bela “Diplomacia”, original de Maysa de 1958. Meio século de intervalo entre as composições desaparece na roupagem de Caymmi.

“Electra” não deve inibir seu lado compositora, mas é um disco de intérprete que mostra como está acima da média do que se canta no Brasil hoje.

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