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Cinema

'Tolkien' transforma vida do autor de 'O Senhor dos Anéis' em épico

Produção se concentra da infância aos 20 e poucos anos de vida do escritor

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Tolkien

  • Classificação 14 anos
  • Elenco Nicholas Hoult, Lily Collins, Craig Roberts
  • Produção EUA, 2019
  • Direção Dome Karukoski

Transformar a vida pacata do filólogo J. R. R. Tolkien num épico cinematográfico é missão quase impossível. Há um contraste tremendo entre a vastidão imaginativa do sujeito que criou o mundo de “O Senhor dos Anéis” e seu cotidiano calmo e suburbano. O filme “Tolkien” resolve esse problema ao se concentrar nas duas primeiras décadas de vida do personagem.

Com efeito, o que faltou em drama aos anos de maturidade do professor de Oxford é compensado pelo que lhe aconteceu da infância aos 20 e poucos anos.

Nascido na África do Sul (por causa do emprego do pai, um bancário britânico na região), Tolkien perdeu o pai aos três anos, a mãe aos 12 e passou a ser criado, junto com o irmão, pelo padre Francis Xavier Morgan, que se tornara amigo próximo da família após a conversão deles ao catolicismo. 

Poucos anos depois, o jovem ainda teve de enfrentar uma longa separação de seu primeiro e único amor, a órfã Edith Bratt (o padre Morgan não aprovava o relacionamento porque ela era protestante e poderia atrapalhar os estudos dele) e a experiência de lutar na Batalha do Somme, uma das mais sangrentas da Primeira Guerra, que deixou 1 milhão de mortos e feridos. 

O filme, portanto, é uma tentativa de mostrar como essas experiências do começo da vida moldaram a visão de mundo de Tolkien —não só pelo lado trágico, mas também pelo desabrochar de seu fascínio pela natureza moldado pela infância no campo.

De modo geral, o diálogo entre inspiração do mundo real e fantasia tolkieniana funciona bem, ainda que às vezes falte alguma sutileza às cenas (como quando o aspirante a escritor imagina um dragão se esgueirando pelas trincheiras do Somme). Mas o filme realmente brilha quando investiga a essência da obra do autor —a magia da linguagem.  

Ao tentar explicar a Edith (Lily Collins) por que se dá ao trabalho de criar idiomas ficcionais, ou ao debater algo aparentemente tão banal quanto a etimologia da palavra “carvalho” com o professor Joseph Wright (Derek Jacobi), o jovem Tolkien, vivido por Nicholas Hoult (o Fera da série “X-Men”), parece intuir algo de fundamental sobre o que significa ser humano. 

Por meio de palavras que evoluem naturalmente ou são inventadas, contemplando a relação misteriosa entre som e significado, somos capazes de dar sentido ao mundo e de transfigurá-lo, descobre ele. Uma árvore nunca é só uma árvore, mas uma janela para um mundo de possibilidades e histórias. A delicadeza com que esse tema é fundido aos episódios de amor e perda da vida do autor vale, por si só, o ingresso. 

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