"Éramos jovens e inocentes, recém-saídos do reformatório, com as mentes cheias de catecismos e atos devocionais de sacrifício próprio", lembra Conrad Keely, um dos fundadores do …And You Will Know Us by the Trail of Dead. O multi-instrumentista está falando do ano de 2001, última vez que sua banda tocou no Brasil, em apresentações enérgicas das quais os fãs até hoje não esquecem.
Na época, o Trail of Dead despontava como nova promessa do rock americano, depois de lançar um álbum homônimo em 1998 e, no seguinte, ganhar dimensão internacional com “Madonna”. O grupo ainda não era tão conhecido quanto ficou depois de 2002, quando lançou seu disco mais importante, “Source Tags & Codes”.
Dezoito anos depois, Keely e seus companheiros —Jason Reece, Aaron Blount e Alec Padron—, voltam ao Brasil para shows no Sesc Pompeia, em São Paulo (datas em outras cidades podem ser anunciadas em breve), nos dias 12 e 13 de julho. As apresentações acontecem pelo selo Balaclava Records.
Nos últimos anos, o Trail of Dead lançou outros seis álbuns, desenvolvendo a sonoridade que mistura energia punk com estrutura de rock progressivo pela qual ficou conhecido. Tratada pelo termo genérico do rock alternativo, a banda também se aproxima do emo e do pós-hardcore da virada da década de 1990 para 2000.
"Vimos o império das lojas de varejo crescer e ruir, mas apesar da indústria, nossa fé nos princípios da nossa arte continua forte", diz Keely. Perto de outras bandas da mesma geração, nomes como At The Drive-In e Queens of the Stone Age, o Trail of Dead não teve o mesmo sucesso comercial.
"Uma nova geração está crescendo com as histórias dos veteranos como lendas, com álbuns e quadros dos nossos antepassados [do rock] como pilares da nossa sensibilidade artística e musical", comenta Keely, que toca bateria, guitarra e canta no grupo. "Significa muito continuarmos dedicando nosso tempo para este gênero tão testado."
Hoje, o discurso é bem mais tranquilo do que quando o Trail of Dead falou à Folha em 2001. Na época, a filosofia era "tocar rock and roll, ficar famoso e depois morrer".
"Continuamos trabalhando nas duas últimas coisas. Agora, estamos mais velhos, mais espertos —mas ainda não famosos", diz Keely. "Sabemos que música é mais sobre viver do que morrer, e a filosofia é algo que se expande conforme acumulamos experiência. Serve para nos dar uma noção de propósito criativo."
A euforia —incluindo as famosas quebras de instrumentos— do passado pode não ser tão latente, mas, nem por isso, os shows no Sesc Pompeia serão menos intensos, diz Keely. "O palco está lá para apresentarmos nossas devoções, o que, enquanto acreditarmos nas nossas criações, vai ser sempre a fonte das nossas manifestações físicas."
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