Duda Beat é prova de que existe vida depois da sofrência

Cantora ascendeu com disco em que processa dez anos de fossa, mas faz dançar

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

"Todo carinho do mundo para mim é pouco”, escreveu Eduarda Bittencourt depois do show de um dos músicos que partiram seu coração. A frase, sua preferida entre todas que já fez, acabou se tornando a tônica de um disco que guarda uma trajetória que passa por Recife, Rio de Janeiro, amores pela metade, um retiro espiritual e culmina em uma das revelações musicais de 2018.

 

O que se tornou a faixa derradeira do álbum “Sinto Muito”, “Todo Carinho” guarda algumas lições sobre a cantora de 31 anos, hoje conhecida como Duda Beat, uma espécie de Adele tupiniquim que imprimiu dez anos de frustrações em um disco. A energia melancólica, no entanto, é exceção no trabalho, cujo trunfo é transformar sofrimento em dança. 

“Eu acreditava que o disco ia virar porque botei a minha verdade nele. Não tem nada de difícil nas letras e eu pensava ‘todo mundo sente isso, acho que vão cantar junto comigo’”, conta Duda. 

Logo depois do lançamento, “Bixinho”, a faixa menos sofrida, disparou nos serviços de streaming, nas legendas de fotos e nas baladas. Hoje já são cerca de 2,9 milhão de execuções só no YouTube.

O público abraçou o sotaque pernambucano, as histórias e a fusão de ritmos como tecnobrega, pop, baião, dub e eletrônica que a cantora tinha a oferecer.

“Eu e Tomás [Tróia, produtor] misturamos tudo o que a gente gostava. Cresci ouvindo brega, ia para rolês de dub e reggae, acho a música latina muito sensual e a década de 1980 é uma das melhores. O meu disco é a minha playlist, só que com a minha vida", diz. 

Duda viu seu desabafo sonoro cair no gosto dos especialistas —foi eleita a revelação de 2018 pela Associação Paulista de Críticos de Arte— e passou de desconhecida a figura recorrente em festivais como o Lollapalooza e o MecaInhotim. No domingo (9), sobe ao palco do Cultura Inglesa Festival para abrir o show de Lily Allen.

“É minha primeira transmissão ao vivo, com balé, participações. Vai ter até cover em inglês em ritmo de forró porque sou dessas. E ainda vou respirar o mesmo ar que Lily, que eu ouvia no ‘Top 10’ da MTV e tem uma narrativa parecida com a minha: histórias que deram ruim e depois bom e depois ruim de novo.”

Foram anos de histórias. De cantora no coral da igreja na infância no Recife à amizade com figuras como Castello Branco, Letrux, Alice Caymmi e Mahmundi na juventude no Rio, das tentativas de entrar na faculdade de medicina à quase carreira como cientista política, tudo foi permeado pela música e pelos músicos. 

Foi só em 2015, num retiro, que ela percebeu que seus planos não iam decolar e que precisava recuperar a energia gasta com as tentativas frustradas —inclusive as românticas. “Fui às cegas e passei dez dias em silêncio. Foi muito transformador, e eu decidi que ia retomar com a música."

Mostrou seus rascunhos para seu melhor amigo, o guitarrista Tomás Tróia. O baterista Gabriel Bittencourt, que é seu primo, o tecladista Lux Ferreira e o produtor Diogo Strausz embarcaram no projeto enquanto Duda trabalhava em bares e pintava paredes para pagar as contas do álbum.

No processo, revisitou dores e se apaixonou de novo —por Tróia. “Colocar esse disco no mundo foi um processo de cura, e vê-lo tocando tanta gente... Eu queria ser anestesista para as pessoas não sentirem dor e acabei fazendo isso com a minha música.”

Com a fama, novos reveses vieram. Em abril, o Music Video Festival e a Spcine lançaram um edital de seleção de talentos femininos para seu próximo videoclipe, mas a iniciativa foi criticada por não prever remuneração. 

Duda se desculpou e voltou atrás. “Retirei a participação porque houve um diálogo, mas muita gente atacou por atacar e isso me deixou profundamente triste”, conta. “Eu não vou conseguir atender a todas as expectativas que existem sobre mim. Eu sou humana e tem só um ano que entrei nesse mundo.”

Depois de provar que existe vida após a sofrência, a pernambucana já dá amostras de como ela se manifesta. Neste ano soltou a versão de “High by the Beach”, de Lana del Rey, parcerias com Illy, Omulu, Mateus Carrilho e Jaloo e antecipou colaborações com Romero Ferro, Lucas Santtana, Diomedes Chinaski e Àttooxxá. 

Depois de uma década na fossa, a nova Duda Beat, embora numa fase mais alegre, diz que não vai abdicar da reputação de sofredora tão cedo. “Vivi dez anos da minha vida sofrendo, é muita coisa para falar ainda”, afirma. “Mas o segundo disco vai ser de transição, sobre os momentos felizes que estou vivendo. Quero colocar o lado da Duda que faz piada mesmo sofrendo e o da que rebola." 

A pré-produção do álbum começa neste mês, e Duda espera alcançar ainda mais corações partidos. “Quero que as pessoas que estejam sofrendo por amor me escutem. Quero ir para um monte de lugares, olhar para um monte de rostos bonitos, trabalhar muito. Agora está tudo no seu lugar, eu tô feliz demais.”

​TOP 5 DA SOFRÊNCIA

Cantora lista músicas que a inspiram

1. “Careless Whisper”, George Michael

2. “Estou Triste”, Caetano Veloso

3. “Loner”, Kali Uchis

4. “Drão”, Gilberto Gil

5. “Paciência”, Lenine

 
Shows

Lily Allen

Pop
Grátis.

A cantora inglesa faz show com ingressos disputados e relembra sucessos que embalaram a adolescência de vários millennials, como

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.