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São Paulo Companhia de Dança mistura sapatilhas e saltos em coreografia

Nova safra de coreografias tem peças de Édouard Lock, Cassi Abranches e Michel Fokine

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'Agora', coreografia de Cassi Abranches, do grupo Corpo, para a São Paulo Companhia de Dança

'Agora', coreografia de Cassi Abranches, do grupo Corpo, para a São Paulo Companhia de Dança Divulgação

São Paulo

Yoshi Suzuki está correndo feito um louco. O bailarino está se preparando para dançar as duas novas obras do espetáculo de estreia da São Paulo Companhia de Dança na temporada 2019, que estreia nesta quinta (6), no Teatro Sérgio Cardoso.

Não é o usual: geralmente o elenco se reveza. Mas nada é muito normal em estreias, especialmente quando duas coreografias estão sendo criadas quase concomitantemente, como é o caso neste espetáculo.

São obras de Cassi Abranches, paulista já quase mineira pelos tantos anos passados no grupo Corpo, de Belo Horizonte, e de Édouard Lock, canadense fundador da La La La Human Steps, companhia que causou furor na dança contemporânea desde sua fundação, em 1980, até o fim de suas atividades, em 2015.

Para aumentar a tensão, as duas coreografias, bastante exigentes do ponto de vista físico e emocional, têm clima e energia completamente diferentes. A de Abranches, é solar; a de Lock, noir.

Depois de correr 20 minutos sem parar ao redor dos outros 12 bailarinos do elenco de “Agora”, de Abranches, Suzuki encarna o homem mal dos filmes de suspense das décadas de 1940 e 1950, nos movimentos sempre ultravelozes de Lock.

O canadense é conhecido por empurrar ao máximo os limites do bailarinos. Isso já era esperado pelo elenco da SPCD, para a qual Lock criou, em 2014, “The Seasons”. Mas a impressão é que, neste segundo trabalho para a companhia paulista, Lock quer esticar ainda mais a corda.

Suzuki conta ter passado 20 dias quase sem ver a luz do sol para a montagem. A iluminação é uma das marcas das obras de Lock, obcecado pelos efeitos de luz e sombra. A caixa preta do teatro se transforma numa moviola onde o coreógrafo edita a coreografia em ritmo de filme policial.

A criação, uma coprodução com o Festival Movimentos, de Wolfsburg, na Alemanha, também é carregada de suspense. Mudanças não param de ser feitas até a pré-estreia em São Paulo (a estreia oficial é no festival alemão).

Até o nome é misterioso: “Trick Cell Play”, algo como o jogo enganoso das células, em constante multiplicação e mutação. Sob o estresse da nova montagem, o coreógrafo não dá explicação nem entrevistas antes do espetáculo entrar em cartaz.

Já Abranches, a solar, fala muito e com entusiasmo de seu “Agora”. Até do que tinha pensado em não falar, a inspiração no livro “Cem Anos de Solidão”, de Gabriel García Márquez.

“Não queria falar porque as pessoas podem querer procurar isso em cena, mas não é uma obra narrativa, não vão encontrar encontrar o livro de forma explícita. Mas estão lá as memórias de uma mulher forte de cem anos, como no livro”, conta Abranches.

“Agora” é sobre o tempo, em seus vários significados: cronológico, climático, verbal, musical. São 20 minutos sem pausa, divididos em três momentos temáticos: o tempo rítmico, rapidez e lentidão, o tempo memória, mais dramatúrgico, da mulher que visita seu passado, e o tempo climático, quente e cheio de adrenalina. “Estou procurando o calor brasileiro da minha geração”, diz ela.

Em todos esses tempos, enquanto Suzuki corre como um ponteiro de relógio acelerado, o elenco cria e recria os momentos de “Agora” com movimentos opostos e frases coreográficas dançadas ao contrário, do fim para o começo.

“Esses bailarinos são danados, rebobinam as frases”, diz Abranches sobre os artistas da SPCD, para a qual já criou “GEN”, em 2014 e, junto com Milton Coatti, “Os Amores do Poeta” (2018).

Trick Cell Play e Agora - São Paulo Companhia de Dança

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