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Televisão

Sucesso de 'Big Bang Theory' é sintoma forte da 'nerdificação' da cultura pop

Após 12 temporadas da série, vale a pena ser grato por sua visão generosa da diversidade humana

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Cena do último episódio de 'The Big Bang Theory'
Cena do último episódio da série 'The Big Bang Theory' - Divulgação
 

Os 12 anos de sucesso de "The Big Bang Theory", encerrados de modo apropriadamente triunfal com a recente exibição do último episódio da série (spoilers: e um Nobel de lambuja), talvez estejam entre os sintomas mais fortes da “nerdificação” da cultura pop ao longo do último par de décadas.

OK, o universo nerd tem algum peso na indústria cultural desde os primeiros best-sellers de ficção científica, mas as coisas mudaram de patamar neste século. E a série estrelada por Sheldon, Leonard, Penny e companhia teve um papel inegavelmente importante, ainda que difícil de mensurar, nessa transformação.

Um exemplo bobo: antes que a série surgisse, alguém seria capaz de imaginar que a abstrusa metáfora do gato de Schrödinger (o gato que está morto e vivo ao mesmo tempo dentro de uma caixa, usado para explicar o fato de que entidades como os elétrons podem se comportar como partículas ou como ondas dependendo do contexto) iria parar em camisetas ou seria usada para explicar namoros intermitentes?

Em parte, a graça da série era essa volúpia quintessencialmente nerd: o reconhecimento de referências. No mesmo episódio, era possível rir de uma piada sobre hobbits, de outra sobre a obsessão de Sheldon com Spock, da série “Star Trek”, ou da escolha de figurino do mesmo Sheldon para uma festa à fantasia. (Um belo dia, ele resolveu ir vestido de efeito Doppler, aquele fenômeno que acontece, digamos, toda vez que um carro de polícia passa na frente da sua casa fazendo “uóóóó”. Sim, dá para representar isso visualmente.)

O seriado, com o tempo, conseguiu atrair para sua órbita muitas das figuras científicas e da cultura pop que celebrava. O saudoso físico Stephen Hawking (1942-2018) primeiro emprestou sua voz robótica às cenas e depois se encontrou em carne, osso e supercadeira de rodas com os personagens; o mesmo se deu com o astrofísico Neil deGrasse Tyson, da nova versão da série “Cosmos”, e de diversos atores das muitas encarnações de “Star Trek”, em especial o americano Wil Wheaton.

Não seria injustiça alguma dizer que os personagens são, em geral, caricaturas —forçadas de barra em forma humana. O paradoxo, porém, é que os anos de convivência entre os personagens, ainda que não tenham apagado as idiossincrasias dos protagonistas, foram transformando a trupe de cientistas em pessoas cada vez mais complicadas —no bom sentido— e interessantes.

A mensagem é muito mais do que “os nerds também amam” (mesmo que ainda seja difícil não ficar surpreso com o fato de que Sheldon ganhou uma vida sexual). Está mais para uma visão generosa da diversidade humana e por isso, assim como pelas risadas, vale a pena ser grato ao pequeno grupo de nerds da Califórnia.

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