Alzira E resgata 'baú' com músicas inéditas e será tema de documentário

Durante gravações, a artista sul-mato-grossense precisou revirar os arquivos e encontrou gravações

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

A cantora, compositora e instrumentista Alzira E
A cantora, compositora e instrumentista Alzira E - Marina Thomé/Divulgação
São Paulo

Marina Thomé conhece Alzira E há mais de 15 anos, mas apenas nos últimos três que ela decidiu fazer um filme sobre a cantora e compositora. Chamado “Alzira E – Aquilo Que Eu Nunca Perdi”, o documentário está sendo gravado e, durante o processo, a artista sul-mato-grossense precisou revirar os arquivos.

“Eram fitas consideradas relíquias, eu as guardava numa caixa e daí achei. Estão comigo há mais de 20 anos, mas eu nunca as tinha ouvido”, conta Alzira E. Marina ficou com o trabalho de reunir, bater informações e organizar os arquivos. Em meio às fitas MDs, VHSs e K7s e os CD-Rs mais recentes, havia quase tantas músicas inéditas quanto os anos que Alzira tem de carreira: 40. Incluídas no arquivo estão parcerias com Itamar Assumpção.

As quatro faixas mais relevantes serão apresentadas na segunda (8) no Itaú Cultural, em São Paulo. O show contará com a exibição de imagens de arquivo que Marina colheu para o documentário e as performances serão registradas em vídeo para o filme.

“São coisas que cantei uma vez ou outra e depois nunca mais”, Alzira explica. “Coisas das quais eu lembrava vagamente, mas não nem falava nada porque não tinha certeza [das memórias].​

”As faixas são “Curva do Rio”, “Árida”, “Filha da Mãe” e “Pronta”. Duas delas serão apresentadas por Alzira com a banda Corte, que tem integrantes do Bixiga 70 e com a qual ela lançou um elogiado disco autointitulado em 2017. Em “Árida”, ela terá companhia dos filhos, Iara Rennó, Joy Espíndola e Luz Marina. E “Curva do Rio” terá presença dos irmãos de Alzira, Tetê e Jerry.

As canções foram finalizadas com a ajuda de letras e anotações que Alzira manteve em seu baú. A maioria havia sido apresentada em shows solo do tipo voz e violão, mas não chegaram a ganhar um registro em fonograma. Algumas delas devem ser registradas em disco (ela prepara álbuns com a irmã, Tetê, e com o Corte, para lançar nos próximos meses).

Mas o passeio de Alzira pelos próprios arquivos foi além do resgate de canções inéditas. Marina reuniu imagens dela em TVs locais, quando a cantora ainda morava em Campo Grande, nos anos 1970, e também da TV Cultura, já quando ela estava em São Paulo.

Além disso, a dupla encontrou cartas, fotos –incluindo todos os bastidores de capas de discos– , trechos de matérias na imprensa e objetos recuperados por amigos. “É o baú, aquilo que a gente digitalizou e mostramos para ela junto com a família e os filhos”, diz a diretora. Ela conta 200 ítens no tal baú digital.

“Ela vem do Pantanal, vive a Lira Paulistana e, hoje, está aí com a banda Corte”, comenta a diretora, que financiou o filme pelo projeto Rumos Itaú Cultural. “Ela tem um histórico muito heterogêneo. Além de ser afetuosa, querida, ter mil amigos.

”Entretanto, para Marina –que fotografa Alzira há anos e traz no currículo o documentário “Som dos Sinos”–, o filme não quer “regionalizar” a história da artista. “Não quero fazer linha do tempo da carreira, já abri mão disso. Quero que esteja no filme a genialidade dela, mas também sua generosidade imensa. Se eu conseguir passar essa generosidade dela, estou satisfeita.

”Comprometida com a qualidade do documentário, Alzira segura as emoções quando se depara com os documentos de décadas atrás. “Não me concedo ficar emocionada nem nostálgica”, assume. “Claro que tem momentos em que comecei a chorar, acontece direto, mas eu relevo, porque isso tem que ser produtivo, para que as coisas possam realmente fazer sentido, servir aos outros.

”Quando começa a lembrar do período pré-música de sua vida, contudo, ela se permite um momento de vulnerabilidade: “Eu já tinha tudo ali, só não tinha eu. Já estava tudo lá, menos eu. Demorei pra chegar um pouco.”

As inéditas de Alzira E por Alzira E

“Pronta
Passei a vida inteira lembrando dela, mas só dez anos depois ela ganhou uma letra. Havia mostrado a primeira parte para o Arrigo Barnabé em 1979, e ele fez a segunda parte. Virou uma música só. Em 1989, disse ao Itamar que tinha essa música e ele botou a letra. Quando lancei “Amme” (1991) e ela não entrou no disco, parei de tocar. Ficou no baú.

“Curva do Rio”
Uma vez fomos ao rio Cuiabá, no começo do Pantanal, e eu inventei essa afinação. Era uma bobagem, só mudei meio tom de uma corda, dava um efeito bonito, e batizei de ‘curva do rio’. Fiz a música instrumental, era 1975. Só resgatei em 1986, quando me mudei para São Paulo.

“Filha da Mãe”
Começou a ser feita ali nos anos 1980, mas nunca ganhava letra. Sabia que tinha de falar de mãe, pai, avós. Tentavam fazer letra, mas nunca funcionava. Um belo dia, consegui amarrar as ideias e escrever. Em 1989, eu, Tetê e nosso irmão caçula, Jerry, montamos um show e colocamos essa música. Os shows foram em 1991/1992.

“Árida”
Já é mais recente, da década de 1990. Escrevi esse poema e falei: “Nunca vou conseguir fazer uma música para isso”. A [filha] Iara Rennó tinha uns 18 ou 19 anos, pegou meu poema e fez a música. A melodia meio que ficou sem lugar pra respirar, porque foi feita com duas pessoas cantando. E o poema também tem essa sensação de não respirar.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.