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HQ sobre faroleiro numa ilha deserta usa mais o silêncio do que as palavras

'Solitário', do francês Christophe Chabouté, traz uma narrativa lenta e imersiva calcada no isolamento

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Télio Navega
Rio de Janeiro

O francês Christophe Chabouté é um autor de quadrinhos peculiar. Sua obra mais celebrada, “Um Pedaço de Madeira e Aço”, que saiu pela editora Pipoca & Nanquim, não tem nenhuma palavra em suas mais de 300 páginas em preto e branco. E o protagonista é um banco de praça que testemunha inúmeras histórias ao longo de sua vida útil.

Recém-lançado no Brasil pela mesma editora, “Solitário” segue o mesmo caminho de silêncios, ainda que tenha alguns diálogos. É a imaginação fértil de um solitário faroleiro que brilha nas páginas da HQ lançada em 2008, na França, e selecionada para o prestigioso Festival de Angoulêm

Página de ‘Solitário’, de Christophe Chabouté
Página de ‘Solitário’, de Christophe Chabouté - Divulgação

A obra que acaba de chegar ao país talvez seja a mais lúdica e apaixonante de Chabouté.

No prólogo, em que uma gaivota voa em torno de um farol, o quadrinista francês faz uso de 16 páginas para ambientar o leitor no cenário idílico de sua história. A narrativa é tão lenta e imersiva que quase é possível ouvir o som do mar à medida que se avança. 

E o protagonista, um recluso faroleiro que vive em silêncio numa ilha minúscula, demora bastante a aparecer. 

“Na escola de arte, um professor nos perguntou qual livro levaríamos para uma ilha deserta”, lembra o autor. “Muitos deram respostas engraçadas, e o professor respondeu que levaria um dicionário, porque cada definição estimula a imaginação e conta uma história. A ideia de ‘Solitário’ nasceu assim.”

Chabouté já havia sido premiado em Angoulême por “Henri Désiré Landru”, sobre um dos maiores assassinos em série da França, conhecido como Barba Azul.

“Queria revisitar, do meu jeito, a história do famoso serial killer. Quis torná-la ficção e fazer com que o leitor a redescobrisse sob outra perspectiva”, diz Chabouté sobre a HQ, ainda inédita no Brasil. “A realidade é pior do que qualquer história. Basta abrir um jornal para perceber isso. Meus personagens não são bons nem maus. Eles simplesmente são.”

Depois de contar a saga de Landru, o autor se inspirou num conto de Jack London, “Para Fazer Fogo”. Não há diálogos em sua história, até porque os únicos personagens são um homem e um cão, mas “Construire un Feu” (2007), também inédito no país, apresenta texto suficiente por meio das recordações de um narrador onisciente. 

Chabouté também já transpôs para HQs obras de Arthur Rimbaud e Herman Melville —nesse último caso,  fez uma releitura de “Moby Dick” que saiu no Brasil há dois anos. 

O quadrinista afirma que a adaptação costuma ser um exercício delicado. “Dependendo da situação, 20 páginas de texto podem ser resumidas num desenho, e duas palavras podem exigir muitos quadros”, diz.

“É preciso fazer os desenhos darem nova dimensão ao texto. Sem cair na armadilha da paráfrase e permanecendo fiel à alma da história. E nada de restringir a imaginação do leitor.”

Solitário

  • Preço R$ 79,90 (380 págs.)
  • Autor Christophe Chabouté
  • Editora Pipoca & Nanquim
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