Passado na Argentina em meados dos anos 1970, “Vermelho Sol” traz como pano de fundo a pré-ditadura no país e tem como trama principal a investigação e a morte de um desaparecido político. O legal desse filme é que nada se desenrola tão simplesmente como esse argumento poderia indicar.
Dirigido por um argentino e com elenco argentino e chileno, a produção já acumula prêmios em festivais.
A fotografia é do brasileiro Pedro Sotero, parceiro de Kleber Mendonça Filho na trilogia “O Som ao Redor”, “Aquarius” e “Bacurau”.
Sem explicar nada, o filme começa com a cena estática da porta de uma casa, por onde saem diversas pessoas carregando móveis e badulaques domésticos. Só vamos entender do que se trata isso uma hora depois.
A cena seguinte é igualmente estranha: uma discussão em um restaurante de uma pequena cidade do interior argentino. O diálogo é bizarro, assim como serão vários outros no decorrer do filme.
Acumulando histórias que aparentemente não tem relação entre si, Naishtat vai amarrando tudo aos poucos. Personagens, alguns sombrios, outros divertidos, entram e saem da trama sem muitas delongas.
O protagonista é um advogado, interpretado por Darío Grandinetti, que vai levando a vida tranquilamente na cidadezinha, às vezes se envolvendo em negócios ilícitos, noutras tentando ser uma pessoa melhor.
A chegada de um investigador famoso por seu programa na televisão, vivido por Alfredo Castro (o personagem-título do excelente “Tony Manero”, de 2008), vai acelerar a conclusão das pontas soltas. Mas não de todas: o desaparecimento de um rapaz, por exemplo, é solenemente ignorado na conclusão do roteiro.
No mais, o estado de ânimo dos argentinos às vésperas do golpe de 1976 paira como uma longa nuvem negra sobre “Vermelho Sol”, filme que só é ensolarado porque a cidadezinha se encontra à beira de um deserto.
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