É entretenimento, não uma peça que aprofunde personagens ou arrisque na estrutura dramática. A origem do protagonista é um folhetim, uma novela editada aos pedaços numa revista americana "pulp", exatos cem anos atrás, e popularizada em séries e filmes hollywoodianos.
Isso se reflete no palco com as canções da banda franco-catalã Gypsy Kings, velhos sucessos dos anos 1980, e nos atores famosos escolhidos para interpretá-las.
Por outro lado, "Zorro" é também uma encenação engenhosa de Ulysses Cruz no espaço 033 Rooftop, com muita interação, recorrendo à versão da dramaturga britânica Helen Edmundson para o romance da chilena Isabel Allende —que se passa antes do Zorro como o conhecemos.
Ele é um idealista que vai à universidade em Barcelona e volta à Califórnia para defender os oprimidos. De mensagem progressista, não deixa de ser uma grande diversão.
O espetáculo surgiu no West End, a Broadway londrina, no rastro do fenômeno “Mamma Mia!”, outro musical “jukebox”, com canções da banda sueca Abba, e não é tão bem-sucedido como entretenimento, porém chega perto.
A nova montagem brasileira evita exagerar a faceta de super-herói do personagem-título, representado por Bruno Fagundes, mas ele ainda é o mocinho, assim como seu irmão Ramon, feito por Marcos Mion, é o vilão. E não faltam acrobacias, duelo e flamenco.
O sarcasmo constante de Mion, apresentador de televisão e ator já visto em peças exitosas como "Camila Baker", serve bem ao papel. Também é eficaz a empatia de Fagundes, que se firma como ator de presença e de muitos talentos, já vislumbrado no musical “Senhor das Moscas”, longe da sombra do pai.
Ainda mais envolvente é a cigana Inêz de Letícia Spiller. Também ela não é estreante em musicais e, embora deixe escapar alguma insegurança, mostra ter voz e paixão para as canções flamencas —ainda que não a destreza e o timbre emocionante de Nicole Rosemberg.
Revelada no programa “The Voice”, Rosemberg é a mocinha, a namorada de Zorro, que tem de salvá-la do malvado Ramon.
Entrecortando a trama juvenil, o sargento Garcia do bailarino Javier Bertelot reforça o humor e rompe qualquer expectativa de realismo, maravilhando a plateia em quadros com o coro e os músicos.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.