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Desenhista paraibano Shiko mescla terror e faroeste em HQ sobre obsessão

Protagonista forte e determinada de 'Três Buracos' busca escapatória ao procurar uma joia perdida

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Télio Navega

Antes de morrer de forma violenta, o pai de Tânia enterra em local desconhecido uma imensa e valiosa pedra preciosa. A partir daí, e com o passar dos anos, a protagonista de "Três Buracos" (Ed. Mino), mais recente HQ do paraibano Shiko, cresce e fica cada vez mais obcecada por encontrar a joia.

A tal pedra, de brilho intenso, é a rara turmalina azul ou paraíba, assim chamada por ter sido descoberta, na década de 1980, na região metropolitana de Patos, cidade em que o quadrinista nasceu.

Shiko diz que nunca teve contato com a joia, e que o avô, com quem conviveu na infância, trabalhou no garimpo em boa parte da vida —além de ter hospedado garimpeiros em sua casa. O vai e vem de profissionais, rumo às minas, ficou na memória do desenhista, que, ainda criança, ajudava o avô a comprar material para o trabalho insalubre.

O garimpo acabou por se tornar um dos buracos que dá nome à HQ e à cidade homônima, cenário da vida miserável da personagem Tânia, uma mulher que só quer sair do poço, da garganta do fosso, em que se encontra. Para isso, busca enlouquecidamente a turmalina paraíba escondida pelo pai, que a assombra, mesmo morto e enterrado em outro buraco do lugar, o cemitério. O terceiro é o prostíbulo. 

"Quando comecei a escrever o roteiro deste quadrinho, há sete anos, queria fazer um western", explica Shiko. "Mas como também gosto de outros gêneros como o terror e o noir, misturei tudo e fiz um faroeste de terror."

Além de mesclar os gêneros em "Três Buracos", Shiko também se diverte na arte, embaralhando delírio e realidade, flashbacks e tempo presente. Ora usa lápis, ora nanquim.

"A característica fugidia da memória foi o que me levou a usar o lápis nas páginas de flashback", conta o desenhista e cineasta. "Desenhar essas cenas como algo que possa ser apagado e reescrito foi uma escolha óbvia, mas achei o resultado tão bonito que ficou assim mesmo."

Shiko acredita que a inspiração para "Três Buracos" não veio somente de sua Patos natal, mas também de Florença, na Itália, onde viveu entre 2011 e 2015, em razão do doutorado da mulher.

"Foi um período ótimo, em que além de ter produzido bastante —'O Quinze', 'Piteco: Ingá' e 'O Azul Indiferente do Céu'—, comi e bebi muito bem", ri. "Nesta época ainda retomei o hábito do desenho de observação, na rua, o que melhorou ainda mais a minha arte. E também vi bastante faroeste e li muito quadrinho italiano. Há muito de Sergio Toppi nas páginas de flashback de 'Três Buracos'."

Enquanto comemora o prêmio de melhor direção de arte no Festival de Cinema de Triunfo, em Pernambuco —pelo filme "Desvio", de Arthur Lins—, Shiko se prepara para retomar um antigo projeto de adaptação literária que havia largado pela metade, em 2017, e dedicar mais tempo ao grafite.

"Tenho grafitado sempre que posso e comecei a fazer algumas coisas realmente boas agora, estou aprendendo", conclui.

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