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Glamour do clássico do erotismo 'Emmanuelle' refrescou o pornô

Franquia fez sucesso estrondoso nos anos 1970 graças à sofisticação que não havia no gênero na época

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São Paulo

“Emmanuelle” é exemplo de “filme certo na hora certa”. Analisado isoladamente, não apresenta nada que justifique tanta badalação. Mas, contextualizado numa radiografia do cinema na metade da década de 1970, suas cenas de transa em banheiro de avião, masturbação e peripécias sexuais com um cigarro justificam o seu status de “clássico”.

O filme original, baseado no romance homônimo escrito em 1959 pela autora francesa de origem tailandesa Emmanuelle Arsan, narra a viagem de uma mulher francesa para encontrar o marido diplomata em Bancoc. Ela se aproxima de uma jovem que proporciona uma série de experiências sexuais a Emmanuelle, incentivadas pelo marido.

O produtor Yves Rousset-Rouard comprou os direitos depois da repercussão de “O Último Tango em Paris” (1972), de Bernardo Bertolucci. Estava decidido a oferecer um produto que aproveitasse uma brecha para filmes ousados. O estupro de Maria Schneider por Marlon Brando tinha aberto um precedente com o qual a indústria ainda não sabia como lidar.

Lançado em 1974, “Emmanuelle” fez tanto sucesso que já no ano seguinte iniciou uma franquia, com “Emmanuelle 2: A Antivirgem”, título bizarro que correspondia ao estampado no segundo romance de Emmanuelle Arsan com a personagem. Pois é, antes de seus sete filmes, “Emmanuelle” foi uma série de livros eróticos.

Rousset-Rouard, com muitas ideias na cabeça para o incipiente filão do pornô light, tratou de pôr no projeto um diretor que recebesse suas ordens sem argumentar. Na verdade, Just Jaeckin não era cineasta. Fotógrafo, tinha habilidade para captar belas imagens.

No elenco, um bando de desconhecidos, entre eles a modelo holandesa Sylvia Kristel, que tinha 21 anos. Ela ganhou o papel num teste em que mostrou mais desinibição do que as concorrentes. Rousset-Rouard ficou empolgado com o fato de ela ter feito teste para “O Último Tango em Paris”, perdendo o papel por pouco.

“Emmanuelle” foi distribuído mundialmente, com sucesso estrondoso onde conseguiu ser exibido. Teve inúmeras cenas cortadas na Inglaterra, precisou de mandado judicial para ser exibido na Itália, passou incólume na Alemanha e fez carreira nos Estados Unidos em salas especiais, orientadas para o pornô.

Recebeu críticas péssimas, mas no mundo dos filmes eróticos ganhou a fama de “classudo”.  Apesar da produção de baixo orçamento, foi rodado em Paris e locações exóticas na Tailândia, sofisticação impensável para os filmes hardcore americanos, feitos em estúdios simples na Califórnia.

Sylvia Kristel também era uma miragem para o público habitual do cinema pornô, que na época escalava garotas longe do padrão longilíneo e delicado. Ela estrelou cinco dos sete filmes da franquia.

Em 1977, Kristel visitou o Brasil em campanha para a liberação do filme original, que seguiu vetado pela censura até 1979. Houve decepção dos brasileiros, que a consideraram pálida e muito magra. O país vivia o auge das pornochanchadas e suas atrizes corpulentas.

Por que o filme certo na hora certa? Ousado, mas sem as cenas explícitas do cinema pornô que chocava o público conservador, “Emmanuelle” encontrou brechas para exibição no circuito comercial. E tanta gente bonita em cenários bonitos impregnava de certo glamour as piruetas sexuais de Emmanuelle.

Erramos: o texto foi alterado

Versão anterior da galeria 'Veja imagens do clássico '​​Emmanuelle'' trazia um erro na legenda da fotografia da atriz Sylvia Kristel durante o Festival Cannes. A imagem é de 1977. A informação já foi corrigida.

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