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Cinema

Como sobremesa após o banquete que foi a série, filme é suntuoso e enjoativo

Longa 'Downton Abbey' satisfaz os fãs, mas quem nunca viu original não tem motivos para assistir

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Downton Abbey - O Filme

  • Quando Estreia nesta quinta (24)
  • Classificação 12 anos
  • Elenco Maggie Smith, Imelda Staunton, Michelle Dockery e Allen Leech
  • Produção Reino Unido, 2019
  • Direção Michael Engler

Baseado na série de TV que durou seis temporadas, “Downton Abbey - O Filme” fecha um ciclo que começou há quase 20 anos, também no cinema. Seu antepassado direto é “Assassinato em Gosford Park” (2001), que teve direção de Robert Altman e roteiro que valeu um Oscar a Julian Fellowes. 

Muitos dos elementos que mais tarde seriam fonte de deleite para telespectadores no mundo inteiro já estavam lá: um palácio no interior da Inglaterra, a suave tensão entre os patrões aristocratas e seus empregados e Maggie Smith.

Fellowes reaproveitou esses ingredientes em “Downton Abbey”, que nasceu como uma minissérie fechada no canal britânico ITV. Mas o sucesso de audiência e crítica foi tamanho que novas temporadas logo foram produzidas.

Agora, o longa reencontra os personagens em 1927, dois anos após o fim da série. Nada mudou na residência, mas um acontecimento portentoso sacode a rotina: uma visita do rei George 5º e sua esposa, a rainha Mary. Ou seja, um enorme “white people problem” (problema de gente branca), a expressão que surgiu nos Estados Unidos para definir os perrengues dos privilegiados.

A chegada iminente dos hóspedes deslancha um frenesi não só no castelo, como também na aldeia vizinha. Também afloram pequenos conflitos: Fellowes tomou o cuidado de presentear quase todo o imenso elenco com pelo menos um momento marcante.

Mas quem rouba a cena é lady Violet Grantham (Maggie Smith), a matriarca sem papas na língua. A atriz admitiu diversas vezes que estava farta da personagem e que até gostaria que ela batesse as botas. No entanto, lá está ela no longa, disparando alfinetadas.

Nem tudo é futilidade nesse ambiente rarefeito. Um separatista irlandês planeja um regicídio. Um segredo de décadas vem à tona, alterando as perspectivas da família. E, na trama paralela mais interessante, o mordomo Thomas Barrow (Robert James-Collier) descobre um submundo gay nas vizinhanças de seu emprego.

Nada disso faz com que o filme do diretor Michael Engler, que vem de uma bem-sucedida carreira na TV, deixe de parecer um episódio especial da série. O orçamento dilatado permitiu belas tomadas aéreas da propriedade, figurinos ainda mais requintados e uma nova versão orquestral da trilha sonora. Mas quem não acompanhou a série talvez não tenha motivo para ir ao cinema.

Já quem era fã não sairá desapontado. “Downton Abbey - O Filme” pode não transcender sua origem televisiva, mas cumpre tudo o que promete, e da maneira mais satisfatória. Os aficionados irão adorar rever tantos velhos conhecidos e saber que eles estão bem.

Mais para o final, “Downton Abbey” explicita o que já era o leitmotiv da série: a inexorável marcha do tempo. O passado idealizado —pois as relações ente as classes sociais nunca foram tão cordatas como aparecem na tela— dá lugar à realidade do cotidiano. 

Haverá um segundo longa? Talvez: no exterior, o sucesso de bilheteria surpreendeu os produtores. Mas essa continuação é, como diria a condessa, perfeitamente desnecessária. “Downton Abbey” no cinema é a sobremesa, suntuosa e ligeiramente enjoativa, de um banquete que já dura quase uma década. Uma pessoa refinada sabe quando chega a hora de parar.

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