Menos sorte teve sua terceira mulher, a bailarina Gwen Verdon (1925-2000). Uma das maiores estrelas do teatro americano nos anos 1950 e 1960, ela não conseguiu alcançar o mesmo brilho no cinema, apesar da extensa filmografia. Perdeu tempo e oportunidades para se dedicar a Nicole, a filha que teve com Fosse, e também para mantê-lo vivo e operante durante o maior tempo possível, mesmo depois de separados.
Essa clássica história da grande mulher por trás do grande homem é contada na minissérie “Fosse/Verdon”, em exibição pelo canal pago Fox Premium 1. O programa foi indicado a quatro prêmios Emmy, e levou quatro –inclusive melhor atriz de minissérie, para Michelle Williams.
Ela e Sam Rockwell capturam, com a ajuda de muita caracterização e alguma química, não só a aparência de Verdon e Fosse, como também a complicada dinâmica do casal, que estabeleceram uma parceria romântica, criativa e profissional durante décadas. O mais impressionante é que nenhum dos dois atores tinha experiência na dança: Williams, especialmente, está soberba.
Mas a narrativa de “Fosse/Verdon” é algo truncada. A ação deslancha em 1971, durante as filmagens de “Cabaret” —é compreensível que os produtores da série quisessem começar pela obra mais conhecida do protagonista. Mas daí em diante o tempo vai para a frente e para trás, enquanto letreiros informam quanto ainda falta para a morte prematura de Fosse, com apenas 60 anos.
Para entender plenamente o que se passa na tela, é preciso ter alguma noção da carreira dos biografados.
Isto faz com que “Fosse/Verdon” se reduza quase a um produto de nicho, dedicado a um público específico: os apreciadores do teatro musical.
Essa bolha é furada em alguns momentos, como no quinto episódio, inteiramente ambientado em uma luxuosa casa de praia. Lá estão Fosse, Verdon, sua filha, seus novos cônjuges e dois amigos célebres: o roteirista Paddy Chayefsky e o dramaturgo Neil Simon, então recém-enviuvado.
Bob Fosse está decidido a rodar logo seu próximo filme, “Lenny”. Gwen Verdon prefere que ele a dirija no musical “Chicago”, que ela entende como a grande chance para um retorno triunfal. Ao mesmo tempo, os médicos recomendam que ele tire um ano sabático para recuperar a saúde, já abalada pelo ritmo frenético de trabalho e pelo consumo de anfetaminas.
Verdon tem um diálogo marcante com a nova mulher de seu ex-marido, a também dançarina Ann Reinking (feita por Margaret Qualley, indicada ao Emmy de atriz coadjuvante e vista há pouco em “Era Uma Vez em... Hollywood”). Sem ciúmes ou ressentimentos, elas discutem o que pode ser melhor para o mulherengo contumaz que ambas amam.
Baseada no livro “Fosse” de Sam Wesson, a minissérie acerta ao ampliar o escopo e jogar luzes sobre a figura admirável de Gwen Verdon. Funciona como contraponto a “All That Jazz” (1979), o revolucionário filme musical em que Fosse encenava sua própria morte. Mas um pouco mais de linearidade traria mais clareza. Faltou, ao roteiro, a elegância de um gesto criado por Fosse e executado por Verdon.
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