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Com Christian Bale e Matt Damon, 'Ford vs. Ferrari' ruma ao Oscar

História real do longa de automobilismo reverbera as recentes disputas e compras de estúdios

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Los Angeles

Christian Bale é um vira-casaca. Desde 2015, o ganhador do Oscar de melhor ator por “O Vencedor”, de 2010, estava comprometido a protagonizar o filme sobre a vida de Enzo Ferrari, o fundador da montadora de carros de luxo.

Ele começou a aprender o dialeto de Modena, utilizado por Ferrari quando estava ao lado de concorrentes italianos, bebeu o lambrusco preferido do dono da escuderia, jantou no restaurante onde costumava fazer suas refeições e ganhou peso.

Três anos atrás, no entanto, Bale abandonou o projeto que seria dirigido por Michael Mann e teria gente como Tom Cruise e Brad Pitt no elenco. Agora, aparece em “Ford vs. Ferrari”, que estreia nesta quinta-feira (14), mas no papel do adversário Ken Miles, piloto contratado pela americana Ford para derrotar a italiana Ferrari na prova 24 Horas de Le Mans, em 1966.

“Era um roteiro fantástico, mas comecei a sentir que teria um ataque cardíaco ao engordar. Meu corpo estava gritando: ‘Você não pode fazer isso agora’. Precisei parar e perder peso”, conta Bale à Folha.

Matt Damon, que faz o papel de Carroll Shelby, ex-piloto e engenheiro contratado por Henry Ford 2º (Tracy Letts) para construir o carro capaz de superar a Ferrari no circuito francês, se antecipa à reportagem ao questionar a presença de um Bale gordo em “Vice”, biografia do ex-vice-presidente americano Dick Cheney, lançada ano passado.

“Falei que não ia fazer o filme, mas encontrei uma nutricionista que prometeu me engordar sem parecer que eu estava morrendo. Basicamente, comi apenas arroz e ovos. Gostaria de retornar ao papel. Quem sabe não vivo Enzo Ferrari encontrando Ken Miles”, brinca o ator, que volta a emagrecer em “Ford vs. Ferrari” e já ganha força para o Oscar.

Na verdade, o longa de James Mangold (“Logan”) é um daqueles filmaços raros no atual cinema americano, sem super-heróis ou temas que ganham forças nas redes sociais adolescentes. Outro exemplar seria “O Irlandês”, de Martin Scorsese, mas esse é produzido pela gigante do streaming Netflix.

“É até estranho receber uma oferta de uma história original”, revela Damon. “Não há possibilidade de franquia. É um filme e pronto.”

Por isso mesmo, a batalha para dar vida à produção vem desde 2010. Nenhum executivo queria arriscar investir US$ 100 milhões em um filme original sobre pilotos de corridas dos anos 1960. Depois do sucesso de “Logan”, Mangold ganhou o sinal verde da Fox. Tudo parecia encaminhado e as filmagens seguiam fortes.

Então, no meio do processo, o estúdio foi comprado pela rival Disney. Com dezenas de adiamentos e cancelamentos de outros longas, o futuro da obra parecia incerto até os novos executivos perceberem seu potencial para o Oscar.

A chegada da Disney pode ser comparada ao tema do filme. A Ford, uma montadora gigantesca, deseja humilhar a Ferrari depois de um acordo frustrado, e decide criar uma equipe de corridas. Mas o time de marketing e a diretoria têm dificuldades em aceitar o brilhante porém rebelde Ken Miles, um piloto veterano da Segunda Guerra.

“Conversamos sobre isso enquanto estávamos filmando, inclusive com os executivos. E claro que existe uma correlação que torna difícil não perceber [a ironia]”, confirma Damon. “Há o paralelo com a arte de fazer cinema, algo que fez eu me identificar com o personagem. Não dou a mínima para carros, mas sei como alguém se sente tentando fazer algo com um grupo de chefões bancados por uma grande corporação.”

Bale, por sua vez, diz que sua atração foi pelo Miles paternal. “Ele tinha obviamente uma paixão eterna pelas corridas, mas agora era pai. Será que ele conseguiria seguir esse sonho tão perigoso?”, explica o astro, que, mesmo adorando motociclismo, não conhecia a história do piloto britânico que interpreta. “É um grande herói desconhecido.”

Parte disso vem da famosa prova de 1966 em Le Mans, recriada com perfeição por Mangold. Miles chega como um dos pilotos da Ford e com duas importantes vitórias no mesmo ano. “O que acontece depois que Miles cruza a linha de chegada renderia outro filme de seis horas”, exalta Christian Bale.

“Você tem o homem e a máquina, que ele controla como ninguém. De repente, surgem as burocracias, regras e federações gritando palavras de ordem contra ele. Ao entrar no carro, estava no seu território. O problema era quando ele saía dele.”

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