Mostra resgata aspecto íntimo e raridades da obra de Franz Weissmann

Artista conhecido pelas esculturas monumentais tem trajetória revista no Itaú Cultural, em São Paulo

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São Paulo

Um cubo vazado, azul celeste, se equilibra sobre três vértices no parque Mário Covas, na avenida Paulista.

Apesar de seus mais de dois metros de altura, os passantes mal reparam na escultura, entretidos com os próprios smartphones ou com uma exposição de charges exibida logo atrás.

A obra é assinada pelo escultor Franz Weissmann, austríaco radicado no Brasil que esteve na linha de frente da arte construtivista no país. E o local em que é exibida, ao ar livre e longe da deferência dos museus, o preferido do artista.

“Se dependesse dele, toda a sua obra era pública”, diz o arquiteto Fernando Ortega, genro do escultor e, por 11 anos, seu assistente, calculista e arquivista —hoje, ele gere o Instituto Franz Weissmann ao lado da mulher, Waltraud, filha do artista.

Onze anos também foi o tempo decorrido desde a última exposição do austríaco em São Paulo. “Franz Weissmann: O Vazio como Forma”, que o Itaú Cultural inaugura agora, faz uma espécie de antologia poética do artista, conhecido justamente pelas esculturas monumentais, dez das quais espalhou pela paisagem paulistana.

Desta vez, contudo, elas não são o foco. Das cerca de 800 peças expostas, apenas 50 são esculturas. As demais são trabalhos pouco ou nunca exibidos, que ajudam a compreender a trajetória do austríaco, morto em 2005, aos 93 anos.

Entre as raridades, estão pinturas e esculturas do início de sua carreira, em Belo Horizonte, nos anos 1940.

No limiar entre o figurativo e o abstrato, elas retratam mulheres nuas, em posições sensuais. Algumas das peças estão quebradas, herança de quando o ateliê de Weissmann foi transformado em cadeia temporária pela polícia mineira.

Na sala ao lado, ficam os seus célebres “Amassados”, placas de zinco que o artista perfurou, martelou e surrou com luvas de boxe numa viagem à Europa nos anos 1960.

Espelhados a rabiscos densos, que Weissmann costumava fazer para “soltar a mão e a cabeça”, segundo Ortega, os trabalhos levaram os críticos da época a indagar se o artista tinha saído do país construtivista e voltado expressionista.

Ao fim do trajeto pelo andar, que ainda explora outros aspectos do início da carreira do artista, está seu “Cubo Vazado”. Considerado um marco em sua produção escultórica, ele foi rejeitado na primeira Bienal de São Paulo, em 1951.

À frente da exposição, o curador Felipe Scovino aventa que a recusa tenha se relacionado com o conservadorismo do júri, contrário à abstração.

Mas Ortega afirma que a justificativa oficial da junta, de que o acabamento da escultura era ruim, procede. Ele conta que Weissmann só passou a se esmerar na finalização das peças quando ganhou uma bronca do crítico Mário Pedrosa.

O acabamento perfeito, industrial, acabou se tornando um símbolo do escultor, assim como o uso de cores primárias —que, ao descobrir o software Autocad, já octagenário, Weissmann passava horas mudando com o clique do mouse— e as dimensões grandiosas.

Auxiliado pelas transformações urbanas em curso e pela maior facilidade de importação de metais, Weissmann encarnou o espírito moderno de sua época e criou obras para um “Brasil do futuro”.

“Acho que o trabalho dele traz a mesma ideia de Brasília, em que os bustos e as estátuas são substituídos por esculturas que possibilitam novas relações entre os habitantes”, diz Scovino, ressaltando a importância dos vazios na obra do escultor.

Apesar dessa dimensão pública tão presente nos trabalhos de Weissmann, Scovino diz que, com essa mostra, seu objetivo era que o público se relacionasse com um lado íntimo de sua criação.

Daí o esforço de encaixotar 730 modelos de Weissmann, maquetes de esculturas que ele construía no seu ateliê, no Rio de Janeiro, com os materiais que tinha à mão, como madeira, papelão, e até mesmo latas de tinta.

Muitos dos modelos enfileirados nas prateleiras foram construídos na vida real, em versões que pesam toneladas. A maioria, porém, não se concretizou.

O escultor Franz Weissmann (1911-2005) manipula as maquetes de suas esculturas em seu ateliê, no Rio de Janeiro
O escultor Franz Weissmann (1911-2005) manipula as maquetes de suas esculturas em seu ateliê, no Rio de Janeiro - Divulgação

Buscando reparar isso, o Itaú Cultural decidiu produzir um delas, um monumento em homenagem às Torres Gêmeas, em realidade virtual. 

Resta saber se, como outras esculturas de Weissmann, esta será relembrada pelo público. “Ele sempre dizia que o lugar ideal da escultura é na memória das pessoas. Só assim ela passa a ser delas”, diz Ortega.

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Franz Weissmann: o Vazio como Forma

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