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Disco da Plebe Rude é como encontro entre History Channel e MTV

Banda de rock inicia projeto 'Evolução', que tem a nada modesta intenção de contar a história da humanidade

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São Paulo

Evolução, Volume 1

  • Onde Disponível nas plataformas digitais
  • Autor Plebe Rude
  • Gravadora Independente

“Evolução, Volume 1” é o novo disco de inéditas da Plebe Rude, o primeiro desde “Nação Daltônica”, de 2014. E a banda nascida na fornada do rock de Brasília nos anos 1980 volta com ambição. Esta é a primeira parte de um projeto de 28 faixas com a nada modesta intenção de contar a história da humanidade.

O álbum é como um encontro entre o History Channel e a MTV. Poucas vezes o rock esteve tão a serviço de refletir sobre os momentos cruciais da aventura humana na Terra. Escutar as 14 primeiras faixas traz ao ouvido termos como “descoberta do fogo”, “romanos”, “era do bronze”, “inquisição”, “cruzadas” e nomes como Galileu, Copérnico, Cabral, Colombo e Gutenberg.

Na faixa “Um Belo Dia em Florença”, a letra passeia por vários artistas do Renascimento. Músicas como “A Queda de Roma” ou “Descobrimento da América” têm títulos autoexplicativos. Seus versos talvez levem os fãs mais curiosos da Plebe Rude a pesquisas na Wikipédia.

Um recheio tão pesado nas letras não chega a ser uma guinada radical para a banda. Desde o poderoso EP “O Concreto Já Rachou”, de 1985, estreia da Plebe em sete faixas de pós-punk incendiário, o discurso político acompanha o grupo.

A banda Plebe Rude
A banda Plebe Rude - Breno Galtier/Divulgação

Os integrantes originais na formação, o vocalista e guitarrista Philippe Seabra e o baixista André X, têm desde 2004 a companhia de Clemente, que divide a carreira na Plebe com a liderança da instituição paulistana de punk rock Inocentes. Nesse formato de supergrupo do rock nacional, desde 2011 a banda se completa com o baterista Marcelo Capucci.

Para essa revisão histórica em forma de canções, duas boas facetas da Plebe estão lado a lado. A contundência do rock urgente de “O Concreto Já Rachou” está entrelaçada com algumas levadas mais acústicas, que remetem ao segundo disco, “Nunca Fomos Tão Brasileiros”, de 1987.

Essa conversa musical às vezes soa palatável, quase pop, como em “A Nova Espécie”, que fala do homem saindo das cavernas, mas em outros momentos corre risco em uma métrica difícil. Um exemplo é “Descobrimento da América”, duro desafio para fãs que queiram cantar junto nos shows.

Se a Plebe Rude é uma banda musicalmente consistente, que não se importa em trilhar caminhos abertos na origem pós-punk do grupo, no caso de “Evolução, Volume 1” as letras intensas podem até deixar as opções instrumentais em segundo plano.

Há momentos que beiram o panfleto, como “Evolução”, que fala de quando o homem “inventou a arma e descobriu o poder” e tem uma participação esperta de Walter Casagrande, declamando alguns versos com a voz conhecidíssima das transmissões de futebol na TV.

Um grupo de canções mais virulentas tem a religião como tema (ou alvo?). É o caso de “Luz no Fim das Trevas”, na verdade duas faixas, em “Parte 1” e “Parte 2”, e também “A Mesma Mensagem”, com letra sobre divergências religiosas e toda a cara de hit radiofônico, se o Brasil ainda tivesse rádios que tocassem bom rock.

Mesmo com o tom enciclopédico, as letras carregam força no refrão. É possível imaginar o público fiel da Plebe cantar nos shows: “E como diz o velho Galileu/ Movemos nessa pedra pelo breu/ É tão pequena, é só o que temos/ Mas a janela dá para o céu”, de “A Janela pro Céu”, ou “Novos ares, pelos ares/ Por terra, pela guerra/ Pelo punho, pela força/ Pelo amor de Deus”, de “Nova Fronteira”. 

Esse primeiro volume propõe contar a história até o século 19. No segundo disco, que deve sair em 2020, outras 14 canções focam o século 20. E os planos do grupo vislumbram um musical em teatro, abrangendo toda a narrativa.

Na estrada desde 1981, a Plebe Rude está ambiciosa, e fazendo rock que vale a pena ser ouvido.

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