Gil diz que Regina deve ver a cultura como veem a 'bela figura dela'; veja repercussão

Ex-ministro, o músico comentou a ascensão da atriz ao comando da pasta da Cultura por período de teste

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São Paulo

Em reação ao anúncio de Regina Duarte de que estaria iniciando um "noivado" com o governo Bolsonaro, podendo vir a assumir o comando da Cultura, a ex-ministra da área Ana de Hollanda se disse assustada sobre a falta de posicionamento da atriz sobre declarações do presidente Bolsonaro —entre defesas à censura e declarações homofóbicas. Já Gilberto Gil, também ex-ministro, diz que a atriz deve ver a cultura no Brasil como veem a "bela figura dela".

Regina Duarte disse nesta segunda que pode assumir a pasta da Cultura depois de um período de testes em Brasília. "Nós vamos noivar, vou ficar noiva, vou lá conhecer onde eu vou habitar, com quem que eu vou conviver, quais são os guarda-chuvas que abrigam a pasta, enfim, a família. Noivo, noivinho", afirmou a atriz à coluna Mônica Bergamo.

"Quero que seja uma gestão para pacificar a relação da classe com o governo. Sou apoiadora deste governo desde sempre e defendo a classe artística desde os 14 anos", disse a atriz.

O presidente Jair Bolsonaro ao lado da atriz Regina Duarte e do ministro-chefe da secretaria de governo Luiz Eduardo Ramos

"Não posso comemorar o fato de Regina Duarte assumir [o cargo], pois eu esperava dela um posicionamento mais firme em relação às declarações de Bolsonaro, de quando ele fala de filtro e faz defesa da censura. Como artista, ela devia ter se posicionado. Fico assustada com ela agora aceitar essas posições do Bolsonaro, que são antagônicas à liberdade na cultura", disse Ana de Hollanda.

"Espero que a Regina veja a cultura do Brasil com os mesmos olhos que eu e tantas outras pessoas vemos a bela figura dela", afirmou Gilberto Gil, também ex-ministro da Cultura.

Regina Duarte é a quarta pessoa na cadeira e pode assumir após um escândalo: na sexta-feira (17), Roberto Alvim foi demitido do mesmo cargo depois de ter publicado um vídeo no qual copia trechos de um discurso de Joseph Goebbels, o ministro da Propaganda de Hitler na Alemanha nazista

O MinC foi extinto por Bolsonaro no início do ano passado e transformado em secretaria, primeiramente vinculada ao Ministério da Cidadania e depois ao do Turismo.

Veja outros nomes que repercutiram o "noivado" de Duarte.

Paulo Betti, ator
"Ela está sendo coerente. Ela apoiou Bolsonaro. É natural que assuma um cargo, se ela deseja isso.
Desejo sorte e boas realizações. Acrescento, ela tem trânsito e história, o meio artistico pode apresentar propostas e ajudá-la."

Cildo Meireles, artista plástico
“Quero esperar para falar melhor. Indicações até agora não estão à altura da pasta. Muito abaixo das expectativas. Mas espero que ela consiga."

José Padilha, cineasta
"A discussão é tão rasteira e tão óbvia, o governo censura e está pouco se lixando para a cultura. O Bolsonaro não deve ter lido um livro na vida. Pergunta se ele já viu algum filme do Glauber Rocha? Se já foi a uma exposição? A gente já sabe quem o Bolsonaro é. Então não é surpresa. E não vou comentar sobre a Regina Duarte, porque ela também já sabe quem o Bolsonaro é.”

Henrique Pires, ex-secretário da Cultura de Bolsonaro
"Excelente escolha. Ela tem trajetória que a credencia para ocupar o cargo. Mas ela vai precisar ter uma retaguarda técnica boa. Ainda mais se for recriado o Ministério da Cultura", afirma. "Regina tem envergadura de ministra, seria a oportunidade de recolocar a moldura de ministério na área, já que o modelo de secretaria especial não deu certo."

Dan Stulbach, ator
“Espero que ela seja a Viúva Porcina e, ao mesmo tempo, a Malu Mulher. Nesse tempo todo, a Regina não teve medo de dar sua opinião. Que agora ela dê a oportunidade de todos se expressarem. Que o estímulo do governo seja bem avaliado, e não demonizado. Que a Regina, com seu nome e sua forte presença, coloque a cultura na pauta do governo. É uma das prioridades, como deve ser em qualquer país."

"A Regina tem se manifestado muito nos últimos anos sobre política e questões culturais. Não a conheço a fundo para saber seu real preparo, mas ela está muito envolvida nisso, e há muito tempo. Talvez ela estivesse se preparando para que esse momento chegasse. E ele chegou. Como uma atriz que se prepara por muito para ser protagonista de uma série. Vamos ver, vamos dar essa oportunidade. Mais preparada e melhor que [Roberto] Alvim ela é —o que não é muito difícil”, afirmou.

Ney Latorraca, ator
“Eu não votei nesse governo [Bolsonaro], mas meu voto é para a Regina Duarte. Sou 100% Regina Duarte.” 

Segundo o ator, a atriz trará “mais equilíbrio para acabar com essas brigas”. Latorraca destaca a carreira de Regina como atriz, diretora e produtora de teatro, televisão e cinema.

“Sua personagem em ‘Malu Mulher’ representou uma mudança total da [representação] da mulher brasileira na televisão.” 

Sobre as críticas vindas sobretudo da esquerda, Latorraca diz que “a democracia que a gente está vivendo no país, ela grita, escandalosa, faz parte”.  

Carlos Andreazza, editor-executivo da editora Record
“Para o governo Bolsonaro, em termos meramente simbólicos, já que a secretaria de Cultura é hoje instrumento para a tal guerra cultural, foi um golaço. Uma mensagem popular que alcança o público para o qual Bolsonaro fala."

"Para Regina Duarte, no entanto, considero um desastre. Assume uma pasta praticamente esvaziada, com pouquíssima margem para iniciativas próprias, espaço disputadíssimo pelos bolsonaristas, e que só existe para o conflito. Simbolicamente, é como se ela assumisse para morrer. Aquilo ali é estrutura para a destruição. Não creio que ela possa ser exceção."

Matheus Nachtergaele, ator
“Não quero atacar a Regina Duarte. Discordo das últimas posturas políticas que ela tomou, mas estamos juntos nesse ofício bonito. Eu admiro a Regina como atriz. Esse governo passará e nós passarinho, como dizia Mario Quintana.”

Bárbara Paz, atriz e diretora
"Regina é uma grande atriz. Faz teatro, faz cinema. Por toda trajetória dela, eu acredito e espero que haja um diálogo com a classe. Isso já é um grande alívio para a nossa cultura: dialogar!"

Janaina Paschoal, deputada estadual (PSL)
"Ela vem adotando uma postura bastante responsável, o que considero positivo. Em regra, os mais incapazes são aqueles que alardeiam saber tudo. Eu penso que a ida dela para o governo foi um marco. Ela conhece a matéria, sabe das necessidades e, com certeza, sabe o que precisa ser cortado. Ademais, foi uma das poucas que se levantou contra os arbítrios do PT e, como todos sabem, pagou o preço. Foi aniquilada (e segue sendo) sem que as feministas de plantão a defendam."

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