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Augusto de Campos dá vida ao latim em traduções inéditas

'Latinogramas: Extraduções' é mais uma proeza de poesia traduzida pelo escritor

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Latinogramas: Extraduções

  • Preço R$ 35
  • Autoria Ausônio, Catulo, Horácio, Marcial e Propércio
  • Editora Galileu Edições
  • Tradução Augusto de Campos

Para além dos obséquios jurídicos e litúrgicos do senso comum, o latim é letra morta. Logo, cabe resgatar a língua como linguagem —afinal, poesia também é estranhamento, diz Chklóvski em “Poetika” (1917).

Plaquete bilíngue, “Latinogramas: Extraduções” é mais uma proeza de poesia traduzida por Augusto de Campos. O poeta verte há sete décadas versos de várias cepas e épocas.

“Assim como há gente que tem medo do novo, há gente que tem medo do antigo. Eu defenderei até a morte o novo por causa do antigo e até a vida o antigo por causa do novo”, escreve em “Verso Reverso Controverso” (1978). Ali, há um estudo sobre as metamorfoses cinemáticas de Ovídio.

Em “Latinogramas” há poemas de Catulo, Horácio, Propércio, Marcial e Ausônio. Plenos de saber e esplendor, tratam da fruição do frágil agora sob a corrosão implacável das intempéries da vida.

Campos conta que “a ideia geral é a da poesia da recusa, num momento em que a poesia de invenção é tão desprezada pela grande mídia e a cultura tão achincalhada pelo governo”.

Na “Ode XI”, de Horácio, os versos espalham-se na página a partir do bloco original. Após o núcleo “– é vedado saber – / o fim / que a mim / e a ti / darão os deuses”, o termo “rochas” despenca em penhasco, cada letra num verso.

Os esparsos (em uma só linha) “bebe o vinho / sabe a vida / e corta” arrematam “a longa esperança” (na outra). Esgarçado, o poema finda em inesperado coloquial e assombrosa assonância: “enquanto falamos / foge / invejoso / o tempo: / curte o dia / desamando amanhãs”.

Dois versos (14 palavras) de “Odi et Amo” (Catulo) são traduzidos em duas palavras (duas linhas com três letras e uma linha com duas) na tipologia que faz do poema um totem óptico: amodeio. A mesma ode rendeuodiamante, onde a permutação vocabular designa reversíveis sentidos.

“Extraduções”, explica o tradutor, “é o título de um futuro livro com traduções esparsas, recentes como as de Catulo, e inéditas, como as de Kamiênski e Iliazd. Hoje as grandes editoras penam com dificuldades financeiras e minguado apoio institucional; prefiro desonerá-las de prejuízos.”

“Graças a um convite do editor independente Jardel Dias Cavalcanti, pus-me a organizar miniantologias, porque é o que posso fazer, diante das muitas solicitações que recaem sobre um velho poeta, e porque gosto de projetar graficamente os livrinhos”, diz Campos.

São preciosas as pequenas tiragens que a Galileu Edições tem feito das traduções de Campos. Desde 2018, editou Arthur Rimbaud, Sylvia Plath, Marianne Moore e uma seleta russa, além dos poemas de Lygia de Azeredo Campos coligidos por ele. Se o formato diminuto é próprio ao reduto da poesia, o caráter “samizdat” tem um tom de guerrilha e manifesto.

Como língua fóssil, o latim vibra nestas extraordinárias “extraduções”. O fóssil é um ser ainda vivo, adormecido em sua forma. Pelo lavor com a linguagem, o poeta mantém a língua viva. Convocando Valéry (“mordo o que posso”), o combativo vate “novogenário” Augusto de Campos cauteriza: “Lato em latim e rujo em russo...”.

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