Condenado por abuso sexual e estupro, Harvey Weinstein se livra de prisão perpétua

Júri formado em sua maioria de homens acata duas de quatro acusações e rejeita a mais grave

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São Paulo

ex-produtor de cinema, Harvey Weinstein, foi condenado por abuso sexual e estupro, duas das quatro acusações sob as quais era julgado em Nova York. Ele, no entanto, foi inocentado da mais grave, a de comportamento sexual predatório —quando o acusado comete em série crimes sexuais com diferentes mulheres, o que poderia levá-lo à prisão perpétua.

De acordo com relatos da imprensa americana, Weinstein não demonstrou muita emoções durante o julgamento e repetiu três vezes ser inocente a seus advogados. O produtor já saiu de lá algemado para a cadeia, onde aguardará por sua pena, no dia 11 de março. A sentença pode ir de 5 a 25 anos de prisão. O júri era formado por sete homens e cinco mulheres.

O ex-produtor foi o estopim do movimento #MeToo, em que mulheres relataram casos em que foram vítimas de abusos sexuais em Hollywood. Apesar de dezenas de atrizes, assistentes administrativas e outras mulheres o terem denunciado denunciaram, apenas o caso de duas delas foi a julgamento.

Jessica Mann o acusou de estuprá-la num hotel em 2013, enquanto Miriam Haley o denunciou por ter praticado sexo oral nela à força em 2006. Os dois depoimentos levaram às acusações de abuso sexual, estupro e comportamento sexual predatório, pela qual ele era duplamente acusado.

Ao todo, seis mulheres testemunharam e contaram sobre episódios de assédio envolvendo o ex-produtor.

Na manhã desta terça-feira, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que a condenação de Weinstein é uma "grande vitória" para as mulheres e que "envia uma mensagem forte".

"Do ponto de vista das mulheres, acredito que tenha sido algo grande", afirmou Trump durante visita oficial à Índia. "Foi uma grande vitória e envia uma mensagem muito forte."​


quem testemunhou contra weinstein em nova york

Annabella Sciorra

Declarou que, depois de um jantar no inverno de 1993 ou 1994, Weinstein forçou a entrada no apartamento de Sciorra em Manhattan e a estuprou. A Justiça determinou que o suposto ataque já prescreveu, de acordo com a lei de Nova York

Miriam Haley

Disse aos jurados que em 2006 o ex-produtor praticou sexo oral nela à força no apartamento de Weinstein, em Nova York, em 2006, apesar de suas contestações. O caso de Haley era um dos dois que o levou a julgamento.

Jessica Mann

Testemunhou que Weinstein penetrou seus genitais com medicação para ereção e a estuprou em um quarto de hotel em Manhattan. Esse é o segundo caso que o levou a julgamento.

Dawn Dunning

Acusou o ex-produtor de tocar suas genitais em um quarto de hotel em Manhattan. 

Tarale Wulff

Testemunhou que Weinstein a puxou para uma escadaria isolada em um lounge localizado em Manhattan e se masturbou.

Lauren Young

Disse aos jurados que o produtor tirou seu vestido, apertou seus seios, se masturbou e ejaculou no chão de um quarto de hotel em Los Angeles.


A defesa de Weinstein tentou desacreditar as acusadoras, dizendo que elas transaram com o produtor para progredir em suas carreiras. Os advogados do produtor tentaram mostrar que as vítimas tiveram contatos amigáveis e fizeram sexo de forma consensual com ele depois dos crimes. O júri discutiu o caso por cinco dias e conclui pela condenação.

A maioria das outras alegações contra o magnata de Hollywood já haviam prescrito, não se enquadravam na jurisdição de Nova York ou envolviam comportamento abusivo, mas não criminal. Weinstein e os membros da diretoria de seu antigo estúdio teriam chegado a um acordo judicial com várias das supostas vítimas do executivo, caso de um acordo revelado pelo New York Times em 2019.

No valor de US$ 25 milhões, ou cerca de R$ 103 milhões, o acordo judicial faria com que Weinstein não precisasse reconhecer seus crimes publicamente ou pagasse pessoalmente indenizações às cerca de 30 mulheres, entre atrizes e ex-funcionárias, que o acusam de assédio sexual.

Essas vítimas seriam dos Estados Unidos, do Canadá, do Reino Unido e da Holanda. As informações foram dadas ao jornal por advogados envolvidos no processo. Eles ainda afirmaram que as partes mais importantes aceitaram o acordo preliminarmente.

O julgamento em si também foi marcado por polêmicas. Logo em seu início, a promotoria classificou uma campanha de mídia recentemente empreendida para desacreditar as acusadoras do empresário como uma “abominação”, e pediu que o juiz tomasse providências a respeito, com uma ordem de censura.

Mas a advogada do ex-produtor, Donna Rotunno, rebateu às críticas da promotora pública, Joan Illuzzi. “Illuzzi vem a este tribunal definir meu cliente como predador, e aí tem a cara de pau de dizer que eu não deveria discutir o caso publicamente. Ela quer que todo mundo condene Weinstein antes que qualquer prova seja apresentada a este tribunal”, declarou a advogada.

Rotunno já havia assumido, em entrevista durante o crescimento do movimento #MeToo, a posição de adversária, argumentando que a corrida para condenar publicamente os homens acusados de desvios de conduta e agressão sexual estava destruindo reputações e carreiras de forma extrajudicial. Mesmo que o movimento tenha beneficiado a causa das mulheres, o preço foi alto demais, ela afirmou.

A advogada chamou ainda para depor uma psicóloga especialista em falhas de memória. Em seu depoimento no caso de Weinstein, ela explicou que a precisão da memória diminui ao longo dos anos e usou como exemplo testemunhas que são pressionadas a dar mais detalhes sobre um fato que eles viveram.

"É possível mencionar algo que somente é uma hipótese e depois ter a impressão de que é uma lembrança", disse Loftus.  "[Memórias falsas] podem ser sentidas com uma quantidade enorme de detalhes e emoções, mesmo não sendo verdadeiras." 

Com o julgamento encerrado em Nova York, Weinstein enfrentará agora acusações na Califórnia. Enquanto o caso mal começava a andar no tribunal em Manhattan, o ex-produtor foi acusado por promotores de Los Angeles de cometer atos de violência sexual contra duas mulheres.

De acordo com a promotora Jackie Lacey, Weinstein "usou seu poder e influência para ter contato com as vítimas e em seguida cometer os crimes".

Os crimes teriam acontecido em fevereiro de 2013. No dia 18 daquele mês, segundo Lacey, o produtor entrou sem permissão no quarto de hotel da primeira vítima. Na noite seguinte, Weinstein cometeu outra agressão sexual contra outra mulher em Beverly Hills.

Com AFP

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