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Cinema

'Inaudito', sobre guitarrista que trabalhou com Gal, Caetano e Gil, entrega bom cinema

Dieretor entendeu que não se pode filmar de maneira careta um músico inquieto e sempre aberto à experimentação

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Inaudito

  • Quando Estreia nesta quinta (13)
  • Classificação 10 anos
  • Elenco Lanny Gordin, José Roberto Aguilar, Jards Macalé
  • Produção Brasil, 2017
  • Direção Gregorio Gananian

Em "Inaudito", vencedor da mostra Olhos Livres da Mostra de Tiradentes de 2018, o desafio já está dado na saída. Como dar conta, no espaço de um longa, do processo criativo de um guitarrista que tocou em discos essenciais de um dos períodos mais férteis da música brasileira?

O currículo de Lanny Gordin inclui discos com Gal Costa (quatro LPs fantásticos entre 1969 e 1972), Caetano Veloso (o de capa branca, de 1969, e o experimental "Araçá Azul"), Jards Macalé (o 1º LP, de 1972) e Gilberto Gil (o de 1969, que começa com "Cérebro Eletrônico", e o clássico "Expresso 2222"), além de um disco de 1970 com Hermeto Pascoal na banda Brazilian Octopus.

Há um agravante: Lanny foi diagnosticado, ainda jovem, com uma esquizofrenia que com o tempo prejudicou sua fala e tirou um pouco de sua mobilidade para tocar a guitarra. Felizmente, a precisão e a energia sempre foram suas marcas, nunca o virtuosismo. Mesmo assim, Lanny amargou um longo ostracismo.

É necessário, então, algum tato para entender e resumir a arte desse músico sem cair na comiseração. E habilidade para fazer jus a uma história tão pesada (pela importância dos discos que ajudou a fazer) que pode amedrontar o mais experiente dos cineastas.

Lembremos o que aconteceu com outros documentários desse tipo: "Loki – Arnaldo Baptista"; "Filhos de João", sobre Os Novos Baianos; "Coração Vagabundo", com Caetano Veloso; entre muitos outros.

São filmes a que vemos com prazer, por causa dos músicos, mas esquecemos assim que saímos do cinema. Talvez porque tivessem falhado em captar a essência dos artistas em questão e traduzi-la em cinema. As imagens funcionam como complemento para a trilha, e só.

Claro, há exceções. "Um Homem de Moral", sobre Paulo Vanzolini, é um documentário que sai ligeiramente da cartilha "entrevistas com imagens de arquivo". "Cartola – Música para os Olhos" soube homenagear o genial compositor num tom de ensaio, rompendo de vez com a mesma cartilha.

"Inaudito", felizmente, está entre as exceções. Principalmente porque o diretor, Gregorio Gananian, entendeu que não se pode filmar de maneira careta um músico inquieto e sempre aberto à experimentação. Ele consegue traduzir a essência da arte de Lanny para a forma fílmica.

Isso não se dá sem algum sacrifício. Por vezes, parece que a música é secundária à vontade de se impor um estilo, uma imagem impressionante. O experimentalismo do diretor dá vazão a exercícios aleatórios com reflexões, reversos, distorções que nem sempre funcionam, embora na maioria das vezes o resultado seja no mínimo interessante.

O que predomina, afinal, é a adequação entre as imagens e a paixão musical de Lanny. Para isso, é providencial a viagem à China, onde o músico nasceu (em Xangai).

"Inaudito", ou seja, o que nunca foi ouvido, pode não mostrar quem foi Lanny no período 1969-1973, quando mais brilhou. Mas apresenta um músico original ainda em atividade. De quebra, também nos entrega bom cinema. Já é bastante.

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