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Fragilidade na comunicação vai nos matando por dentro, diz diretor de 'Disforia'

Após sessão de pré-estreia, Lucas Cassales participou de debate promovido pela Folha, em São Paulo

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São Paulo

"A falta de comunicação é o mal do mundo. Todas as tretas pelas quais a gente vê as pessoas passando são porque, às vezes, elas não entendem o que sentem. Quando entendem, não conseguem expressar", disse Lucas Cassales, diretor de "Disforia", durante o debate que se seguiu à pré-estreia do filme, promovido pela Folha.

O filme conta a história de Dário, um psicólogo infantil que interrompeu os atendimentos após uma experiência pessoal traumática. Ao retomá-los, é indicado para atender Sofia, uma criança que teve surtos de agressividade. A menina desperta em Dário lembranças do seu trauma e provoca sensações perturbadoras nas pessoas ao seu redor.

Cenas do filme 'Disforia'
Cena do filme 'Disforia', do diretor brasileiro Lucas Cassales; filme explora o perigo das emoções não reveladas - Divulgação

Por meio de uma narrativa não linear, composta por várias cenas sem diálogos e com pouca iluminação, Cassales explora os riscos da falta de comunicação sobre saúde mental. “O filme fala muito sobre a impossibilidade das pessoas se comunicarem e exporem suas angústias e defeitos. É uma questão sobre como a gente é frágil na comunicação e como essas coisas vão nos matando internamente”, disse o diretor.

Rafael Sieg, ator que interpreta Dário e que também participou do debate, contou que ficou impressionado sobre como seu personagem parece incapaz de pedir ajuda. “Na verdade, nenhum personagem pede ajuda em momento algum”, disse o ator.

Para Sieg, compreender a lacuna formada por essa solidão foi determinante para o processo de interpretação. “Todos os traumas, as dores e as culpas do Dário criam um profundo envolvimento emocional. Eu não me vejo nesse lugar. Depois das filmagens, eu tomo um banho de mar e mando tudo embora.”

Esse momento de desprendimento é fundamental também para o profissional de saúde mental, de acordo com a psicanalista Beth Coimbra, que também participou do debate a convite da Folha. Para ela, o fato de o psicólogo reviver os próprios traumas durante o atendimento a um paciente é um sinal de que, talvez, essa relação precise ser interrompida.

“Alguma coisa muito terrível se passou com Dário e foi revivida na situação de Sofia. É indicado que o profissional não atenda o paciente se este for um mobilizador de angústias pessoais em um padrão tão perturbador.”

Para a psicanalista, “Disforia” é uma “ode ao escondido”, porque estimula a curiosidade. “O filme me fez pensar nos aspectos desconhecidos que cada um tem escondido dentro de si. Esse é o esconde-esconde da vida”, disse.

O cuidado com a saúde mental, segundo Coimbra, varia de acordo com o objetivo de cada indivíduo, ainda que não de forma consciente. “A psicanálise mobiliza o conhecimento dos nossos esconde-escondes. A gente acaba fazendo isso para poder viver a vida. Talvez para ser feliz ou para aguentar o presidente.”

O debate foi mediado pela jornalista Sílvia Haidar, que assina na Folha o blog Saúde Mental.

"Disforia" estreou nos cinemas na quinta-feira (12).

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