Ludmilla mostra lado pagodeiro em EP que foge do funk e do pop

Fã de Alcione e Belo, cantora aposta no cavaquinho após fazer hit do Carnaval e músicas com Anitta e a rapper Cardi B

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

No ano passado, Ludmilla recebeu uma ligação de sua mãe, que estava num show do grupo de samba Vou pro Sereno. “Eles estavam gravando um DVD, eu não sabia, e me chamaram para cantar”, diz a cantora.

“Pensei em uma música que eu curto, ‘Teu Segredo’, eles gravaram, botaram no YouTube e explodiu.”

Publicado em agosto, o vídeo de Ludmilla interpretando a faixa do Exaltasamba destacou uma faceta antiga, mas pouco conhecida da artista —a de pagodeira. Com o Vou Pro Sereno, ela ainda gravou uma versão de “Cheguei”, um de seus maiores hits, e “Cara Valente”, composição de Marcelo Camelo mais conhecida na voz de Maria Rita.

O sucesso do vídeo de “Teu Segredo”, já quase tão acessado quanto o da música original, e sua habilidade para entoar o samba romântico geraram uma comoção nas redes sociais.

O resultado desse fenômeno é um EP inteiramente dedicado ao pagode, previsto para abril —mas, nesta quarta-feira (17), ela lança suas primeiras músicas no ritmo —“Faz Uma Loucura por Mim”, regravação de Alcione, e “A Boba Fui Eu”, da própria Ludmilla, no projeto Spotify Singles, promovido pela plataforma de streaming.

“Comecei a cantar por causa do pagode”, diz a cantora. “Tinha um padrasto que era de um grupo, então a gente sempre acompanhava. Cresci ouvindo nomes como Alcione, Belo, Pixote.”

A primeira vez que ela subiu em um palco, inclusive, foi para cantar pagode, aos oito anos. “Todo lugar que eu chegava em [Duque de] Caxias era ‘bota a Ludmilla para cantar pagode’. Como profissão, já que gosto de dançar, optei pelo funk e pop. Mas o pagode sempre habitou dentro de mim.”

Ao longo dos anos, ela não abandonou o samba romântico. Vez ou outra, Ludmilla aparece dando uma palinha de músicas de Belo ou Beth Carvalho em vídeos nas redes sociais. No programa “Roda de Funk”, publicado no YouTube em 2013, ela canta “Conselho”, clássico de Almir Guineto, quando ainda assinava como MC Beyonce.

Uma de suas referências no samba, Alcione, é homenageada com a regravação de “Faz Uma Loucura Por Mim”. “Além daquele vozeirão maravilhoso, amo os papos que ela dá nas músicas”, diz. “Vivemos uma época maravilhosa para as mulheres, mas se a gente pensar direitinho, a Alcione tá desde lá atrás falando sobre empoderamento. É ‘eu te amo, mas não sou qualquer uma, faz uma loucura por mim aí’, entendeu? ‘Te amo, mas você tem que me provar.”

A música de Alcione, aliás, não destoa do trabalho de Ludmilla, principalmente se posta ao lado de “A Boba Fui Eu”, que trata de uma paixão não correspondida. “Sempre fui assim nos meus relacionamentos. Nunca fui de mendigar por amor. Nunca fui de mendigar por amor, sempre me valorizei, mesmo não sendo maravilhosa, nem a rainha da beleza. Minhas músicas falam disso.”

Mas a era pagodeira de Ludmilla —que, ela garante, é mesmo só uma fase— não vem depois de uma desilusão amorosa. Na verdade, a cantora acabou de se casar, no último mês de dezembro, com Brunna Gonçalves, uma de suas dançarinas.

A vida de casada, ela diz, praticamente não alterou a rotina. “Parecia que eu já era casada. “Não mudou muita coisa. A gente já andava juntas 24 horas por dia, já morava junta, já trabalhava junta, já era melhor amiga, já se amava muito.”

A incursão de Ludmilla por pandeiro e cavaquinho vem no auge de sua carreira. Depois de despontar como funkeira e entrar no pop mainstream, ela compôs no ano passado “Onda Diferente”, hit de Anitta, gravou um funk ainda não lançado com a rapper americana Cardi B, cantou no Rock in Rio e lançou seu primeiro DVD, “Hello Mundo”, entre outras conquistas recentes.

Mas sua música mais famosa no momento é uma ode não explícita à maconha, no melhor estilo de Bezerra da Silva. “Verdinha” foi entoada por mais de 1 milhão de pessoas no último Carnaval, quando seu bloco bateu o recorde de público no Rio de Janeiro.

A letra fala de uma muda que ela plantou para vender o “grama da verdinha a R$ 1”. Mas a referência, diz, é sua avó —e não Bezerra. “Esses dias, quis plantar feijão. Botei dentro do algodão, mas ele torrou no sol. Minha avó jogou fora, fiquei pensando ‘caramba, você destruiu minha plantação’!”

No clipe, Ludmilla aparece numa plantação de alface, o que levou várias mães a mandarem mensagens agradecidas para ela, dizendo que seus filhos começaram a comer mais salada após o vídeo.

Em paralelo à explosão da música e da carreira, ela também sofreu uma tentativa de censura do deputado mineiro Cabo Junio Amaral, do PSL, que entrou com uma queixa-crime contra a canção. “Aproveitaram que ‘Verdinha’ estava fazendo um bafafá e quiseram surfar na onda para se eleger. Já vi músicas com nomes de drogas e nada aconteceu.”

Mesmo que a música não cite a erva alucinógena diretamente, Ludmilla é a favor da descriminalização da droga. “O Brasil idolatra tantas coisas vindas de fora que poderia observar como tratam a maconha em outros países. Claro, estudado, organizado, igual lá nos Estados Unidos. Os lugares para comprar parecem uma loja da Apple, com cadastro e tudo mais. Acho que o índice da criminalidade vai diminuir completamente.”

Sobre o significado real da letra, ela joga para a torcida. “É a ‘verdinha’ que você quiser. As crianças foram na alface. As pessoas podem pensar o que quiserem”, afirma.

“A mensagem é você, apesar das suas escolhas, não deixar nada faltar na sua casa. Se for prestar atenção em todo mundo que joga pedra, não vai seguir seu caminho. É tipo: não me perturba, que vou tacar fogo em mais um só para não ficar maluco e vou zoar da cara de todo o mundo. É isso e dane-se”.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.