Descrição de chapéu Artes Cênicas

Regina Braga apresenta ode musical para a história da cidade de São Paulo

Enquanto o Rio costuma ser exaltado pelo sol, mar e sensualidade, capital paulista costuma ser a 'prima estranha'

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São Paulo

Em seu livro “A Capital da Solidão” (2003), Roberto Pompeu de Toledo aponta uma diferença entre as músicas que falam de São Paulo e as canções sobre o Rio de Janeiro.

São Paulo, em geral, é retratada como algo estranha, destrói coisas belas. Já o Rio aparece exaltado pelos atributos físicos, o sol, o mar, a sensualidade dos corpos. Regina Braga escolheu falar sobre a prima estranha em uma peça de teatro, e estreia no próximo dia 12 “São Paulo”, um retalho costurando letras de música e textos literários sobre a cidade.

Com roteiro que escreveu ao lado de Isabel Teixeira, diretora da peça, Braga fala sobre sua chegada a São Paulo, em   os olhos para uma cidade que teve um crescimento fora do comum: segundo o site da prefeitura, o censo de 1900 contava 240 mil pessoas. Hoje, a cidade tem mais de 12 milhões de pessoas vivendo nela, sem contar cidades vizinhas que formam a Grande São Paulo.

Cabe nesse desenvolvimento de uma dramaturgia que beira a aula de história reflexões pessoais e subjetivas. Em um momento da peça, Braga conta sobre sua chegada em São Paulo, em 1964, aos 17 anos.

“Eu tinha medo, achava tudo muito grandioso, quando desci de ônibus na esquina da São João com a Ipiranga. Um ônibus que vinha do interior parava ali. Lembro da minha timidez e de pensar ‘será que eu dou conta de tudo isso?’.”

A atriz diz também que em contraposição ao medo havia uma sensação de maravilhamento. “E o deslumbramento maior foi com as pessoas da cidade. Pessoas que eu descobri ali no ambiente de um pensionato e que me levavam para todos os lugares que eu havia sonhado”, afirma.

Braga conta que São Paulo foi se abrindo por meio das novas amizades. Ela entrou na faculdade de filosofia da USP e, nas incursões que fazia na Escola de Artes Dramáticas, formou sua rodaentre artistas das artes cênicas. Até que se tornou atriz.

Embora o esteio do espetáculo seja o livro de Pompeu de Toledo, outros autores são citados na peça. José de Anchieta, Castro Alves, Guilherme de Almeida, Itamar Assumpção, Plínio Marcos estão entre eles.

“Tive que fazer uma seleção, que passou por vários momentos, mas não queria ficar só no passado. Dou uma noção geral das etapas da cidade”, conta.

“O que mais me deixou chocada [nessas leituras] é o isolamento da cidade em boa parte de sua existência. A gente não imagina que essa é uma cidade tão nova assim.” 

A peça é dividida em três movimentos: no primeiro, intitulado “A Terra”, fala-se sobre a origem da cidade. No segundo, “O Homem”, é apresentada a diversidade dos habitantes da cidade. José Miguel Wisnik resume esse perfil em um texto: “uma das principais maneiras de ser paulista é não ser de São Paulo”.

No terceiro, chamado “O Boom”, acrescenta-se a história do crescimento, e a dramaturgia traz retratos da São Paulo que a gente conhece hoje.

Braga conta que o longo processo de corte e recorte foi sendo testado. “Primeiro, entrava muito Mário de Andrade. Fiz uma leitura na casa dele. Mas depois cortei e acabei colocando Plínio Marcos”, diz, sobre o dramaturgo da vida marginal, autor de histórias como “Navalha na Carne”.

Com Braga, estão em cena três músicos: Vitor Casagrande (cavaquinho e bandolim), Alfredo Castro (percussão) e Guilherme Girardi (violões).

Ao mesmo tempo que promove a estreia de “São Paulo”, Braga se dedica a temporadas extras de uma peça de longa trajetória de seu repertório, “Um Porto Para Elizabeth Bishop”, sobre a escritora americana que viveu no Brasil, homenageada da Flip em 2020.

A homenagem rendeu protestos por causa de manifestações políticas da escritora nos anos 1960 —ela disse que o golpe militar foi uma revolução rápida e bonita.

“Ela [Bishop] amou o Brasil de forma que outras pessoas nem conseguiram chegar perto.” Braga diz que a opinião de Bishop, na época, foi “filtrada” em ambiente influenciado pela elite, mas que, depois disso, a autora deu atenção em sua literatura a classes mais baixas.

São Paulo

  • Quando Estreia no dia 12. Qui., sex. e sáb., às 21h. Dom., às 18h
  • Onde Teatro Unimed - al. Santos, 2.159, Jardim Paulista
  • Preço R$ 45 a R$ 90
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