Descrição de chapéu
Cinema

Filme sobre corrupção em escola arranca o melhor de Hugh Jackman

'Má Educação' se baseia em história real do maior roubo de colégio público dos Estados Unidos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Acostumado a interpretar personagens maiores que a vida —heróis de quadrinhos, protagonistas de musicais, mocinhos de épicos—, é raro que Hugh Jackman se deixe entrever como um homem comum.

“Má Educação”, filme lançado há pouco pela HBO depois de estrear no Festival de Toronto, permite essa oportunidade incomum —e dá gosto ver como o ator australiano aproveita a chance, num papel que tem sido incensado como o melhor de sua carreira.

É um filme feito para TV? Sim, mas em plena quarentena, sem telona nenhuma acesa e com o streaming pegando fogo, essa distinção parou de fazer sentido. Além disso, nem Jackman nem o diretor Cory Finley têm intenção de encarar a obra como coisa menor ou se adaptar a qualquer zona de conforto.

A história de um escândalo de corrupção real numa escola pública do estado de Nova York é filmada com vigor e ironia fina, compondo um drama com toques de thriller de primeira qualidade.

O caso é baseado num evento descrito como “o maior roubo de escolas públicas da história dos Estados Unidos” pelo roteirista Mike Makowsky —que foi aluno do colégio Roslyn na época em que a trama acontece e consegue manter o interesse elevado mesmo depois que as revelações chocantes são todas feitas, com controle invejável de narrativa.

O furo do caso, aliás, foi dado em 2002 pelo próprio jornalzinho dos estudantes da instituição, depois repercutido por veículos como o New York Times e a revista New York.

Então amadora, a jornalista adolescente, Rebekah Rombom na vida real, não deu bola para o cala-boca vindo da administradora da escola e começou a fuçar em seus livros de contas, que afinal eram de registro (e interesse) público.

A tal gestora, que é pega desviando fortunas para nadar de braçada em produtos de luxo, é vivida por Allison Janney, vencedora do Oscar por “Eu, Tonya”. Ela arrasa, como de hábito, num papel com muito mais camadas do que aquele que lhe rendeu o prêmio da Academia, enquanto é função de Jackman viver o protagonista, o superintendente escolar que é o esteio moral do filme. Ou será que é?

Poucas vezes se viu o ator usar seu infindável carisma com tanta consciência de como ele pode servir para mascarar segredos e torpezas.

Filmado numa luz desfavorável por uma câmera fascinada pelo defeito, que ressalta a beleza no ambiente burocrático da escola pública e a banalidade num ator acostumado a ser visto sob holofotes extraordinários, Jackman abraça a contradição.

Atuar e mentir são lados da mesma moeda, e aqui Jackman atua como alguém que atua; um homem que sabe que o meio para alcançar os patamares que julga merecer depende de manter uma persona pública o tempo todo. E não entende exatamente o que resta quando precisa descer do palco.

É muito fácil odiar quem prevarica com dinheiro público, mas é muito difícil odiar Hugh Jackman, especialmente quando ele não quer ser odiado. Lembremos que, afinal, corrupção é um crime baseado na lábia —e quem tem carisma sabe convencer que comete crimes de forma honesta.

O misto de insegurança e firmeza, dignidade e cinismo que Jackman incorpora está à altura do panteão dos melhores atores. E vale ser visto por um público sedento de cinema.

Má Educação

  • Onde Disponível no HBO Go
  • Elenco Hugh Jackman, Allison Janney, Ray Romano, Geraldine Viswanathan
  • Produção EUA, 2019
  • Direção Cory Finley
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.