Descrição de chapéu Livros

Escritor espanhol Juan Marsé, vencedor do prêmio Cervantes, morre aos 87 anos

Conhecido como o último romancista clássico da Espanha, seus livros destrincham a Barcelona do pós-Guerra

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Madri | AFP

Morreu neste sábado (18), aos 87 anos, o escritor espanhol Juan Marsé, um dos grandes nomes da literatura em língua espanhola das últimas décadas —ele ganhou o Cervantes, maior prêmio literário da Espanha, em 2008.

A informação foi confirmada pela agência literária Barcells, que não esclareceu a causa da morte.

Descrito como o "último romancista clássico" da Espanha por críticos literários e escritores, Marsé foi aprendiz de joalheiro, trabalhou em publicidade e foi editor-chefe de uma revista. Tímido, um tanto esquivo e modesto, ele nunca se descreveu como um intelectual, apenas como um "narrador".

Homem em retrato preto e branco
Retrato do escritor espanhol Juan Marsé tirado em 1991 - Elisa Cabot/Flickr/Reprodução

"Minha vida não interessa", anunciou a Josep María Cuenca, autor de sua biografia "Mientras Llega la Felicidad", ou enquanto chega a felicidade, quando começaram a se conhecer.

Além do Cervantes, Marsé ainda foi laureado com outros troféus de prestígio ao longo da carreira. Foi o caso do Planeta, obtido em 1978 por "La Muchacha de las Bragas de Oro", a menina da calcinha de ouro; o Biblioteca Breve, em 1966, por "Últimas Tardes com Teresa"; o Prêmio de Crítica à Narrativa Castelhana, em 1993, por "O Feitiço de Xangai"; e o Juan Rulfo, em 1997, um dos mais importantes da América Latina.

"Juan Marsé realmente não sabe quanto talento ele tem, qual a importância do trabalho que ele fez ou o quanto seus leitores lhe devem", disse o escritor e vencedor do Nobel Mario Vargas Llosa à época.

O autor, cujo nome de batismo é na realidade Juan Faneca, começou a escrever histórias nas revistas Ínsula e El Ciervo, até que em 1960 publicou seu primeiro romance, "Encerrados con un Solo Juguete", ou trancados com um único brinquedo.

Escritor catalão em língua espanhola, Marsé disse em várias entrevistas que a pátria do escritor "é a linguagem, não a língua" e defendeu "a dualidade cultural e linguística da Catalunha". Algo "que tanto preocupa e que enriquece a todos nós", disse ele ao receber o prêmio Cervantes.

Marsé fazia parte da chamada "geração dos 50" junto com os amigos Jaime Gil de Biedma, Carlos Barral, Eduardo Mendoza, Manuel Vázquez Montalbán e Juan Goytisolo.

Seus livros narram uma Barcelona do pós-Guerra, e descrevem com cuidado, realismo e ironia as tensões sociais entre a burguesia tradicional, as novas elites e a classe trabalhadora do período.

"Recebo em Bruxelas a triste notícia de que Juan Marsé, uma figura-chave na literatura espanhola, nos deixou. Um homem de convicções firmes, que através de suas obras conseguiu nos transportar para a realidade social de Barcelona no período pós-Guerra. Meu carinho por sua família e amigos", declarou no Twitter o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez.

"Juan Marsé morreu e em Barcelona sentimos como se um pedaço de nossa alma tivesse sido tirada de nós. Nosso compromisso é continuar lutando para que a Barcelona dos bairros que ele tão bem retratou e amou nunca morra", escreveu na mesma rede social Ada Colau, prefeita de Barcelona.

O romancista Eduardo Mendoza, que também venceu o Cervantes, disse que Marsé "foi um dos grandes inventores de Barcelona, talvez o maior, pôs a cidade no mapa-múndi".

Já Arturo Pérez-Reverte disse no Twitter que "se apagou a vida de um guerreiro". "Morreu Juan Marsé, o último de nossos clássicos, lutador honesto e solitário, menosprezado durante décadas pelo nacionalismo local. Adeus a um mestre e amigo."

Luis Garcia Montero, diretor do Instituto Cervantes, expressou no Twitter sua "tristeza profunda".

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