Descrição de chapéu The New York Times

Louvre se prepara para reabrir e pode ter queda de 80% no número de visitantes

Público fará fila em segurança e uso de máscaras será obrigatório, diz Jean-Luc Martinez, presidente do museu

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Farah Nayeri
The New York Times

O Museu do Louvre, em Paris, deve reabrir em 6 de julho, depois de um fechamento de 16 semanas que lhe custou € 40 milhões​ (equivalente a R$ 238,2 milhões) em faturamento.

Em um ano normal, o maior museu do planeta recebe cerca de 10 milhões de visitantes, nos 86 mil metros quadrados de área que têm aberta ao público.

Quando o museu reabrir, 70% dessa área estará acessível, incluindo as grandes galerias de quadros italianos e franceses, os pátios de esculturas e a seção de antiguidades egípcias. Mas, com as fronteiras da França ainda fechadas a viajantes, o número de pessoas será uma fração do que a instituição receberia normalmente na temporada de verão, o pico de seu movimento.

Enquanto a França esteve em lockdown, o museu foi administrado pelo seu presidente, Jean-Luc Martinez, especialista em esculturas gregas antigas que o comanda desde 2013. Ele conversou com o The New York Times por telefone na metade de junho. A conversa abaixo foi editada e condensada.


Qual é o seu maior desafio, na reabertura? Proteger o público. No Louvre, isso é bastante fácil, porque os espaços são gigantescos e, graças à venda online de ingressos, somos capazes de controlar o número de pessoas que nos visitam.

Os visitantes poderão fazer fila em segurança, e o uso de máscaras será obrigatório para as pessoas com idade superior a 11 anos.

Como será visitar a 'Mona Lisa'? A galeria em que o quadro fica foi renovada e reinaugurada no final do ano passado. Introduzimos filas e espaçamento entre os espectadores, o que permitirá que os visitantes cheguem mais perto da pintura.

Até recentemente, as pessoas formavam multidões em torno da "Mona Lisa". Agora, os visitantes ficarão em uma ou duas filas durante dez ou 15 minutos. Em seguida, cada pessoa terá garantida a chance de ficar diante da "Mona Lisa" e contemplá-la com uma distância de aproximadamente três metros.

Queremos tornar o encontro com a "Mona Lisa" um momento especial.

Mas vocês terão muito menos visitantes, por causa da pandemia. Sim. Normalmente, uma média de 75% de nossos visitantes vêm do exterior. Essa porcentagem sobe a 80% no verão. Desses visitantes, 1,5 milhão vem dos Estados Unidos e 900 mil são chineses.

Se as fronteiras entre a Europa e o resto do mundo não forem abertas no verão deste ano, veremos uma queda de 80% no número de visitantes.

Depois dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, perdemos 40% de nossos visitantes e demoramos três anos a recuperar os números. E, depois dos ataques terroristas em 2015 na França e em outras partes da Europa, tivemos uma queda de 40% em nosso movimento, mas tudo se normalizou no prazo de um ano.

Desta vez, não sabemos o que vai acontecer. Nosso cenário mais pessimista é o de que levaremos três anos para voltar ao nosso nível normal de visitas.

Como vocês pretendem compensar a receita com a venda de ingressos perdidos? Em 2018, isso trouxe US$ 87 milhões (R$ 461,2 milhões) em faturamento para o museu, perto de US$ 100 milhões (R$ 530 milhões). Estamos trabalhando com o ministério da cultura em um plano para garantir o futuro do Louvre. O Louvre e o Château de Versailles dependem especialmente do turismo internacional.

E vocês recebem um grande subsídio do governo francês? Recebemos € 94 milhões ​(R$ 567 milhões) por ano, a maior contribuição que o governo da França faz a qualquer museu do país. Temos a sorte de ser um museu de propriedade estatal. As pessoas zombam do modelo francês, mas ele gera mais solidez para instituições seculares.

Qual foi a bilheteria da grande exposição sobre Leonardo Da Vinci, encerrada pouco antes do início do lockdown? Tivemos 1,2 milhão de visitantes, o que se traduz em cerca de € 2,5 milhões ​(R$ 15 milhões) em receita. Esse é um resultado bastante excepcional. Em geral, as exposições tendem a gerar prejuízo, e esse não é um termo que eu goste de usar. Elas nos custam dinheiro.

O 'Salvator Mundi', atribuído a Leonardo Da Vinci, jamais foi mostrado como parte da exposição do artista. Ele será visto algum dia em Paris ou no Louvre de Abu Dhabi? Não tenho como responder a essa pergunta. Eu tinha solicitado o quadro para a exposição de Leonardo, mas ele não veio. Espero que a pintura um dia seja exposta ao público, porque é importante que as pessoas possam formar uma opinião. O museu é exatamente o lugar correto para que obras sejam exibidas e que opiniões possam ser exprimidas.

E quanto às demandas de restituição de objetos feitas por antigas colônias francesas? O Louvre recebeu algum pedido desse tipo? Não, não recebemos pedidos de antigas colônias francesas quanto a isso.

A questão da proveniência e da origem das coleções é o cerne daquilo que fazemos no Louvre, e não apenas por conta da pressão gerada por esses debates. Em 2021, o Louvre colocará todas as suas coleções online, e a questão da proveniência será examinada, como parte do processo.

É preciso trabalhar quanto à proveniência e quanto à acessibilidade das coleções, tanto para pesquisadores quanto para o público geral. Também temos de compartilhar tudo que sabemos sobre essas coleções com os países dos quais elas tenham vindo.

Estamos vendo estátuas e monumentos públicos sendo derrubados em todo o mundo ocidental, no momento. Qual é sua opinião sobre isso? Sou historiador, por formação, e história é algo que deve ser construído metodicamente, e não sob pressão das emoções e rumores. Acredito que os museus tenham um papel a desempenhar. São o lugar no qual memórias podem ser compartilhadas. De outra forma, surge um confronto de memórias.

Existem, é claro, capítulos sombrios na história, e controvérsias. Mas em um sistema democrático, isso é legítimo e saudável. Por outro lado, destruir estátuas e obras de arte é algo que acontece em ditaduras. É possível contextualizá-las, é possível explicá-las. Minha crença como historiador é a de que é preciso batalhar pelo diálogo.

Você acha que os historiadores virão a recordar o coronavírus como a coisa que matou o turismo de massa? Não acredito nisso. Está na moda fazer essa afirmação, agora. Mas os grandes museus palacianos, como o Vaticano, o Hermitage e o Louvre, continuarão a ser lugares turísticos. A palavra “turista” não é palavrão.

Portanto, você de fato acredita que voltará a receber 10 milhões de visitantes por ano? Sim, acredito que sim. Ao contrário do que pensam algumas pessoas, o mundo posterior ao coronavírus não será tão diferente do mundo anterior.

Tradução de Paulo Migliacci

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