Morre o designer Jorge Zalszupin, gênio do mobiliário modernista

Fundador da L'Atelier chegou ao Brasil após fugir das perseguições nazistas da Segunda Guerra Mundial

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São Paulo

Morreu o arquiteto e designer Jorge Zalszupin, aos 98 anos, nesta segunda-feira (17). A informação foi anunciada pela sua filha Verônica, numa publicação no Instagram. A causa da morte ainda não foi revelada.

Zalszupin foi o fundador de uma das maiores marcas do design moderno brasileiro, a L'Atelier. Criada em 1959, a empresa ganhou destaque pelos móveis modernistas, marcados pelo uso escultural de madeiras brasileiras e pela influência de traços do mobiliário escandinavo.

O artista judeu nasceu em Varsóvia, na Polônia, em 1922, onde viveu até os 18 anos, quando se viu obrigado a deixar o país, após sua mãe ser levada a um campo de concentração nazista.

Zalszupin concluiu os estudos em arquitetura na Romênia e viveu ali até o ano de 1947. Dois anos depois, chegou ao Brasil, onde anos mais tarde viria a se naturalizar.

No início da década de 1950, Zalszupin começou a projetar prédios modernos e luxosos na capital paulista e a criar alguns dos móveis mais importantes do design brasileiro. Muitas das peças foram marcadas pelo uso de madeira, desenhos curvados e delgados. O carrinho de chá, inspirado em carrinhos de bebê da Polônia, retrata bem isso.

O uso do jacarandá é uma marca constante em suas obras. Encantado pela resistência da madeira, ele dizia que ela "quebrava os dentes da serra", de tão dura, segundo a especialista em design Adélia Borges.

"O jacarandá permitia estruturas muito finas, pés muito delgados", diz Borges. "Quando essa madeira começou a se esgotar, ele passou a explorar a perobinha-do-campo."

Depois de trabalhar na firma de arquitetura Branco & Preto, em São Paulo, ele investiu numa marca própria, na qual passou a criar obras sem vinculação à demanda de clientes. Em 1960, quando já atuava na L'Atelier, Zalszupin deu origem a um de seus mais icônicos móveis, a poltrona Dinamarquesa.

Assim como muitas de suas criações, a poltrona, que é considerada um clássico, compõe a decoração das salas do Judiciário brasileiro.

Em 1970, Zalszupin vendeu a L'Aelier ao grupo Forsa e se tornou o diretor de pesquisa e desenvolvimento de produtos de todas as empresas da firma.

"Os móveis do Jorge são atemporais e primam pela elegância. Ele sempre foi versátil, indo da madeira ao ferro, passando pelo plástico. Nos últimos dez anos, desde que começamos a reeditar os móveis da L'Atelier, houve um aumento expressivo da procura pelas peças dele. E a demanda só cresce", afirmou a empresária paulistana Etel Carmona, dona da loja Etel, em entrevista de 2006.

Segundo Giancarlo Latorraca, arquiteto e diretor técnico do Museu da Casa Brasileira, o polonês se destacou principalmente pela fusão dos seus conhecimentos de origem com aqueles da cultura e práticas brasileiras, lembrando que suas produções indicam passos originais da representação moderna.

Zalszupin também foi um dos pioneiros a usar pedaços de madeira para compor peças, em vez de uma única madeira uniformizada.

Segundo Borges, grande parte das obras elegantes do polonês foram destinadas à elite, o que ofuscou uma de suas facetas –a tentativa de democratizar o acesso ao design. Ela lembra que além da L'Atelier, o arquiteto criou outras fábricas, como é o caso da Hevea, que produzia peças de plástico como o icônico balde de gelo Eva, e da Labo, de material de informática.

"Ele é o último mestre do design brasileiro que nos deixa", disse Borges. "E influenciou muitos designers, sobretudo Marcelo de Rezende, Oswaldo Mellone e Paulo Jorge Pedreira que são industriais."

Zalszupin deixa duas filhas, Verônica e Marina, uma neta, Adriana, e uma bisneta, Olivia. O enterro será na segunda, restrito aos familiares.

Erramos: o texto foi alterado

Uma versão anterior do texto citava o designer Paulo Jorge Pedreira como "Paulo Sergio Pedreira". O texto foi corrigido. 

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