Exposição em São Paulo apresenta paisagens urbana e bucólica de Belo Horizonte

Bandeirinhas do jovem Bruno Faria se encontram com pinturas 'naïf' de Lorenzato, morto em 1995

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São Paulo

Na década de 1970, quem visitava um ponto turístico brasileiro podia levar para casa uma flâmula com a imagem do lugar. As bandeirinhas traziam reproduções em serigrafia de monumentos como a Igreja da Pampulha, em Belo Horizonte, e o prédio do Banespa, no centro de São Paulo. Eram paisagens urbanas icônicas e imponentes, retratadas em cores fortes.

Por volta desta mesma época, paisagens mais bucólicas do Brasil apareciam nas telas do pintor mineiro Amadeo Luciano Lorenzato —casinhas à beira do lago, florestas à luz da lua, plantas cravadas na terra, o pôr do sol de Belo Horizonte. Tudo executado em uma paleta de cores suave. Sua visão do país não era a do turista encantado com os monumentos, mas a do homem cotidiano em andanças diárias.

Um diálogo entre essas duas paisagens opostas de Brasil será apresentado no site na sede física da galeria paulistana Marília Razuk, a partir de 21 de outubro. A mostra “Horizontes: Lorenzato e Bruno Faria” coloca dez flâmulas com imagens de Minas Gerais garimpadas e trabalhadas pelo jovem artista Bruno Faria ao lado de dez telas de Belo Horizonte de Lorenzato, morto em 1995 e descoberto tardiamente pelo circuito.

À esquerda, óleo sobre tela de Lorenzato; à direita, flâmula da série 'Lembranças de Paisagem', de Bruno Faria, com a imagem da Igreja da Pampulha - Galeria Marília Razuk e Periscópio

Recifense radicado em Belo Horizonte, Faria coleta desde 2016 flâmulas antigas em mercados de segunda mão e feiras de antiguidade. Ele então coloca uma camada de tinta sobre tudo o que está escrito nestas bandeiras, como slogans e nomes de cidades. “A partir do momento em que velo o texto, a paisagem vem para os olhos de uma forma que tem um impacto, fica limpo”, diz, sobre a série “Lembranças de Paisagem”. Sua obra lida com questões da cidade, do espaço público e da arquitetura.

Já Lorenzato fez pinturas a partir de caminhadas nos arredores de sua casa e no campo, usando ferramentas herdadas de seu trabalho como pintor de paredes e murais, como pentes e escovas. Nascido em Minas Gerais mas filho de italianos, ele passou boa parte da vida adulta na Europa, onde trabalhava na construção civil e vendia pequenas guaches para se sustentar. Antes de voltar para o Brasil, em 1948, e se radicar em Belo Horizonte, estudou arte em Vicenza e Roma. Sua obra era considerada "naïf", ou ingênua, pela crítica.

A conversa entre os artistas se dá também pelas marcas do tempo que as obras trazem. Lorenzato pendurava algumas de suas telas em árvores para que fossem molhadas pela chuva, de forma a terem o registro da água, conta Faria. “Tem uma coisa da memória da obra dele que também vejo nas bandeirinhas, que são das décadas de 1960 e 1970, não são novas, muitas vêm com mancha, fungo, alguma sujeira, furo de buraco de traça. Têm uma vida, acho que tem uma relação muito próxima com o [trabalho do] Lorenzato”, afirma.

A mostra apresenta também um grande recorte da coleção de flâmulas de Faria: há 40 delas em uma sala, cada uma de um local do Brasil, criando uma breve cartografia do país.​

Horizontes: Lorenzato e Bruno Faria

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