Inhotim reabre após quase oito meses com ingressos esgotados e 10% do público

Museu, que tem parte do acervo a céu aberto, é um dos principais pontos turísticos em MG

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brumadinho (MG)

Pouco mais de uma hora depois da reabertura dos portões do Instituto Inhotim, na manhã deste sábado (7), após quase oito meses de fechamento, o estacionamento do local tinha um número considerável de carros particulares e alguns poucos ônibus de turismo.

Limitando ingressos a 10% de sua capacidade normal —apenas 500 visitantes por dia, no local que acomoda 5.000— o instituto diz que esgotou as vendas rapidamente durante a semana, conforme a previsão de reabertura anunciada foi se concretizando. A última sexta-feira do mês, dia de entrada gratuita, também já está esgotada.

Brumadinho (a 55 km de Belo Horizonte), município onde está o Inhotim, aderiu ao plano Minas Consciente, que orienta a reabertura e retomada de atividades no estado, e está em região de onda verde, que permite a retomada de atividades não-essenciais.

De acordo com o boletim da Secretaria Estadual de Saúde de sexta, o município tem 1.207 casos e 15 mortes relacionados ao novo coronavírus.

No primeiro dia de retomada das atividades, as áreas verdes e galerias registraram circulação de famílias, muitas delas com crianças, e pessoas em busca de um respiro para meses de quarentena e isolamento social. Pontos como a galeria dedicada à Adriana Varejão e o Sonic Pavilion, de Doug Aitken, chegaram a ter filas.

Essa foi a primeira vez desde o início da pandemia que o construtor Luís Fernandes, de 60 anos, e a família saíram de Borborema, no interior de São Paulo. Eles dirigiram 677 km para conhecer o instituto em Minas.

Fernandes diz que queria visitar a cidade desde o ano passado, quando o rompimento de uma barragem da Vale deixou 270 mortos, mas os planos foram sendo adiados até que viram a notícia sobre a reabertura. “Muito bonito aqui. Via por fotos, mas pessoalmente é mais bonito”, diz ele.

Com uma distância um pouco mais curta de estrada, a técnica de desenvolvimento em uma mineradora, Daniele Barbosa, de 28 anos, veio de Conselheiro Lafaiete (a 109 km), depois de ver o anúncio da reabertura em um site de notícias, quando lia sobre as eleições dos Estados Unidos.

“A gente já está meio saturado. E locais como aqui, que são abertos, são mais seguros e está todo mundo de máscara, está bem sinalizado”, avalia.

Para a reabertura, o Inhotim contratou uma equipe liderada pelo infectologista Carlos Starling para mapear locais, instrumentos e obras que poderiam ter elevado risco de contágio. Assim, áreas populares entre os visitantes, como as galerias Cosmococa, dedicada às obras de Hélio Oiticica e Neville D’Almeida, ou a de Marilá Dardot, por serem interativas, seguem interditadas.

Segundo o diretor presidente do Inhotim, Antônio Grassi, a opção foi por um formato mais conservador de reabertura, para ter tempo de se adequar à nova realidade.

“Resolvemos abrir mineiramente. Fazendo protocolo para 10% [de visitantes], no final do mês a gente faz uma avaliação de como foi o comportamento e podemos tentar ir nos adequando”, explica ele.

Esta semana, museus, galerias, salas de espetáculo e teatros sob gestão do governo de Minas Gerais, como alguns espaços do Circuito Liberdade, em BH, e a Casa de Guimarães Rosa, em Cordisburgo, também começaram a reabrir. O Museu da Inconfidência, em Ouro Preto, que tem gestão federal, segue fechado.

Além da redução no número de visitantes, Inhotim adotou uso obrigatório de máscara em todos os espaços, há locais com álcool em gel em todas as galerias e espaços onde há bancos e medição. Logo na entrada, um cartaz lembra as medidas de segurança, visitantes recebem um folheto com orientações e é medida a temperatura.

O tempo de portas fechadas, porém, foi um baque para o instituto. Pelo menos 84 pessoas foram demitidas durante a pandemia, como noticiado pela Folha, e diretorias foram temporariamente extintas para controle de gastos. Em anos recentes, Inhotim já havia sofrido com redução de visitantes, primeiro por um surto de febre amarela na região, depois com o desastre da Vale em Brumadinho.

“Num lugar que tem grande dependência da bilheteria para sua manutenção, como é o caso do Inhotim, ficar um longo período de tempo fechado é um impacto sério”, afirma Grassi.

“Nós tivemos o fortalecimento de parcerias com patrocinadores. O caso da Vale, que virou nossa patrocinadora master, foi muito importante para poder compensar”.

O guia de turismo Tiago dos Santos, de 33 anos, que trabalha apenas com visitas em Inhotim, teve o contrato com a empresa que atende o instituto interrompido com o início da pandemia e a paralisação das atividades. Neste sábado, ele já estava com um grupo de cerca de seis pessoas, de volta ao trabalho.

“Para mim é excelente [essa reabertura]. Estava terminando meus valores de rescisão e a gente tem contas para pagar. Como freelancer, vou poder fazer algumas visitas em novembro e dezembro”, diz.

Mesmo com a retomada local, Grassi diz que o instituto agora quer manter a produção de conteúdo nas redes sociais, já que a pandemia aumentou o número de seguidores nos canais oficiais do Inhotim.

Durante o tempo de paralisação em Brumadinho, foram produzidos vídeos mostrando os bastidores da instituição e uma série de diálogos com figuras ligadas ao local, como a conversa entre a artista Adriana Varejão e o escritor Valter Hugo Mãe.

As redes viraram espaço também para manter de alguma forma a programação cultural suspensa em 2020, como o show de Jards Macalé, que será gravado na próxima terça junto ao Magic Square, obra de Hélio Oiticica, que foi restaurada há pouco.

Outro visitante no primeiro dia de reabertura, o aposentado Eduardo Leão, de 72 anos, que mora em BH, brinca que a família não o tem deixado sair durante a pandemia, por ele estar no grupo de risco. Mas a esposa, a sogra, o filho e a nora, o acompanharam a Inhotim.

“Venho aqui sempre. Acompanho desde que começou e fico realmente com saudade”, diz ele.


GALERIAS E OBRAS INTERDITADAS

Galeria Fonte
Galeria Lago
Galeria Cosmococa
Marilá Dardot
Piscina
Olafur Eliasson
Robert Irwin
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.