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Pandemia quebra fila A de desfile e cria novo 'mês da moda' no país

Ao menos oito grandes bolhas fashionistas se espalham ou ainda devem se espalhar pela internet em novembro

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São Paulo

Não teve “make”, não teve selfie e não teve filtro do Instagram para postar na fila A dos desfiles.

Se a moda sempre usou a aura glamorosa para atrair olhares do público de fora do meio fashionista, agora teve de encarar o fato de que a primeira fila, por ora, está quebrada. Mas isso não resultou necessariamente em um problema.

Assim como no circuito das maiores semanas de moda do mundo, nas quais duas vezes por ano esse jogo de egos divide espaços em 30 dias pelas capitais do hemisfério norte, a costura brasileira ganhou um “mês da moda”, com uma enxurrada de eventos que o orbitam de forma independente.

Só neste mês de novembro, pelo menos oito grandes bolhas se espalham ou ainda devem se espalhar pela internet. Parte delas teve alguma programação presencial.

Enquanto a São Paulo Fashion Week rolava sua programação nas redes sociais, centenas de mascarados ocupavam o prédio da Bienal no parque Ibirapuera, antiga sede do evento, que recebeu quinta e sexta o Fashion Meeting.

Um calendário enxuto de desfiles com poucas cadeiras, separadas e sem o alvoroço de outrora, no fim foi menos importante que a série de oficinas, lojinhas temporárias e palestras com nomes da moda que iam da estilista Flavia Aranha, talvez a mais famosa do país no segmento sustentável, a André Boffano, o fundador da Modem e estilista-chefe da Bobstore. A passarela ali era o de menos.

E, nessa virada de disco imposta pela pandemia, há quem já imagine um tal “novo normal” em que todo o mundo se sente na área VIP da passarela.

Uma das consultoras da maior feira de tecidos do mundo, a Premiere Vision Paris, Olivia Merquior se juntou a Lara Azevedo, da agência Noix, para lançar neste sábado (7) o Brazil Immersive Fashion Week, no qual a fila A é colaborativa. As pessoas se veem na tela como se estivessem acompanhando os desfiles feitos em realidade aumentada de marcas de toda a América Latina.

“A ideia foi tirar sarro dessas estruturas antigas e incluir as pessoas na apresentação. A SPFW é a plataforma mais relevante, mas ainda temos no país um mercado frágil de eventos que precisa olhar para outros caminhos. Deles, a tecnologia talvez seja o mais urgente”, afirma Merquior.

O propósito principal dessa primeira semana de moda é ser exclusivamente voltada à tecnologia e furar o bloqueio histórico do país em receber uma seleção sólida de marcas latino-americanas. É o caso de grifes em ascensão como a 12-NA, do Chile, e Nous, primeira marca latina a ser indicada ao prêmio anual do grupo LVMH. “Queremos mostrar que o uso de ferramentas como realidade aumentada e integração de tecnologia 5G à roupa não são ficção científica”, afirma ela.

Mas seria necessário uma boa dose dela ou algum “chroma key” para acompanhar ao mesmo tempo os desfiles da Casa de Criadores e do Brasil Eco Fashion. Ambos são agora, ao lado do resiliente Dragão Fashion Brasil, de Fortaleza, os maiores celeiros de novos talentos e devem se embolar nos últimos dias do mês.

Na Casa, haverá espaço para as construções complexas de Alex Kazuo e o viés manual de David Lee, enquanto o outro tem programação de dez dias.

Seus desfiles virtuais incluem o da paraibana Natural Cotton Color, famosa pelo algodão orgânico colorido usado nas peças, e Catarina Mina, que exporta acessórios feitos à mão com texturas únicas.

Segundo Rafael Morais, à frente do Brasil Eco Fashion, um dos motivos para o grande bonde de eventos é que a pandemia empurrou para novembro tudo que estava planejado. E, no fim, deu certo.

Se por um lado isso mostraria o interesse das pessoas pela moda, também escancara “a necessidade de dar voz a mais gente”, estimulando o trânsito de ideias que, no seu evento, é a sustentabilidade.

Em plena pandemia, a moda parece estar mesmo voltando à moda. Mas retornou bem diferente das férias.

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