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Saiba quem é o brasileiro que venceu mais um Emmy pela fotografia de 'The Crown'

Adriano Goldman entregou unidade visual à série da Netflix que lança agora sua quarta temporada

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Henrique Goldman
Londres

Na sua quarta temporada, "The Crown" continua com um enredo tão instigante quanto o das temporadas anteriores. Os diálogos seguem sutis e inteligentes e a atuação do elenco é, como sempre, impecável.

Tendo, desde o início da série, fotografado 22 episódios, o diretor de fotografia paulistano Adriano Goldman, criado no bairro de Pinheiros, é, sem dúvidas, uma das grandes estrelas da mais prestigiosa e cara série da Netflix —o orçamento de cada temporada de "The Crown" é estimado em US$ 130 milhões, ou R$ 670 milhões. Foi ele o catalisador quem deu unidade visual à série, combinando monumentalidade com intimismo e virtuosismo com elegância. Não é por menos que faturou dois prêmios Emmy de melhor fotografia por dois episódios —um da segunda temporada, de 2018, e outro da quarta, lançada no ano passado, que rendeu a segunda estatueta a ele no último domingo.

"Adriano [Goldman] é simplesmente indispensável", diz Peter Morgan, um dos nomes mais importantes da dramaturgia britânica contemporânea e criador, roteirista e produtor-executivo de "The Crown". "Ele não só é fundador e criador da série, como também o mestre arquiteto da sua estética, do seu sentido, significado e sucesso. Ele é um grande artista e, sem ele, eu estaria completamente perdido", conclui.

É curioso como o próprio Goldman não se enxerga minimamente como um artista. Ele considera o seu trabalho como uma forma de artesanato e não se envaidece com os elogios e os vários prêmios internacionais que tem recebido.

"Se eu for um artista, sou um artista raso. Estou muito mais interessado em ser só um bom diretor de fotografia, descobrindo formas novas de trabalhar cada vez mais perto daqueles que são os verdadeiros artistas —os autores, os diretores e os atores", diz ele.

Fernando Meirelles, com quem Goldman colabora há quase quatro décadas, se lembra de um garoto de 16 anos que ficava sentado por horas na recepção da sua produtora. "Perguntei para alguém 'quem é aquele moleque?'", diz ele.

"Disseram que ele queria trabalhar conosco. Estávamos saindo para gravar e acho que pedimos para ele carregar um gravador ou algo assim. Ele foi. Colou no grupo e por lá ficou. Por alguns anos, achei que ele seria um diretor ou um roteirista, talvez, pois era articulado. Um dia, surpreendentemente, ele disse que estava indo para o Maine fazer um curso de fotografia. Foi e voltou fotógrafo. Ele se vê como uma espécie de prestador de serviços para o diretor. Isso é bobagem, pois a fotografia que Adriano faz conta as histórias tanto quanto os diálogos. É um artista, mesmo que não queira encarar esse fato."

A quarta temporada de "The Crown" começa em 1979 e termina em 1990, período em que a paz da família real é perturbada pela entrada em cena da frágil, passiva e diáfana Lady Diana, que se transforma na Princesa do Povo, e de Margareth Thatcher, a arrogante e dogmática primeira-ministra, a poderosa —e por muitos detestada— Dama de Ferro que criou caos no Reino Unido mas, ganhando a guerra das Malvinas, terminou com a ditadura militar na Argentina.

Mulher branca loira vestida de noiva ao lado de homem branco moreno vestido de noivo
O príncipe Charles e a princesa Diana em Londres, em 29 de junho de 1981 - Reuters

Goldman fotografa as duas com muita atenção para as nuances, sublinhando com a câmera suas incoerências, complexidades e humanidade. "Ele é o exímio mestre do close-up e da combinação perfeita de realismo e fantasia", diz Benjamin Caron, o diretor principal da quarta temporada da série. "Em cada enquadramento tem uma busca pelo equilíbrio perfeito entre brilhos, sombras, ângulos, movimentos de câmera, lentes e cores e nessa busca pela perfeição ele consegue revelar a alma das personagens."

"Foi um grande e novo desafio fotografar fatos históricos mais recentes que ainda não foram digeridos pela história e estão tão presentes na memória de grande parte do público", diz Goldman. "Foi mais difícil manter o mesmo tom de realismo realçado das séries anteriores sem cair num naturalismo mais fácil e mundano."

A nova temporada de "The Crown" retrata a intimidade de muitas pessoas que ainda estão vivas e, por isso, está causando tantas controvérsias. Chocados com certas licenças dramáticas, políticos, historiadores, aristocratas, amigos e membros da família real estão aderindo a uma campanha lançada pelo tabloide The Mail on Sunday para obrigar a Netflix a incluir um anúncio antes de cada episódio explicando que se trata uma obra de ficção.

Homens brancos lado a lado em set
Cary Joji Fukunaga (à esq.) e Adriano Goldman (à dir.) em Jane Eyre em 2011 - Imdb

"Para mim o problema não existe", diz Goldman. "Nunca tratei 'The Crown' como uma peça documental, nem mesmo quando eventos históricos foram refilmados. A polêmica não é inédita. Sempre alguém vai se ofender com alguma coisa. A proposta para resolver o problema então qual seria? A autocensura? Seria mais certo submeter o roteiro a um comitê censor? Não acredito nisso. O objetivo da arte é mais provocar do que agradar a todos."

Ao falar sobre "Star Wars", a nova série na qual Goldman está trabalhando, produzida pela Lucas Films para a Disney, ele respira fundo. Filmando pela primeira vez uma ficção científica, ele se sente desafiado e contente. "É isso que eu sempre procuro, um novo desafio. Quero descobrir gêneros novos e dizer —para um público radicalmente diferente— coisas diferentes de todas que eu disse antes na vida. Isso é o que importa. Não sou um pensador da cultura e nem da minha própria obra. Eu só tenho vontades, obstinações. É tudo num nível mais simples e pé de boi."

Erramos: o texto foi alterado

A série "The Crown" está disponível na Netflix, e não na HBO, como afirmava versão anterior. O texto foi corrigido.

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