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Cinema

Warner Bros. golpeia os cinemas ao lançar filmes direto no streaming

Estúdio anunciou que longas de 2021 irão simultaneamente para a HBO Max e para as salas, que já sofrem com a Covid-19

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São Paulo

O cinema talvez nunca tenha passado por um período de provação tão grande quanto o atual. Como se já não bastasse a ameaça vinda das plataformas de streaming, o setor se afoga cada vez mais em incertezas conforme os meses de pandemia se arrastam.

Nesta quinta (3), as salas sofreram um dos maiores golpes do ano —a Warner Bros., um dos principais estúdios do mundo, anunciou que a sua programação de filmes de 2021 será lançada diretamente no streaming. As estreias acontecerão simultaneamente nos cinemas, mas isso pouco alivia a situação.

Alvejados pelos intermináveis meses de interrupção das atividades culturais e pelos novos protocolos de segurança que vieram com a reabertura, exibidores de todo o mundo tentam se reerguer. Contavam, para isso, com a força de títulos como “O Esquadrão Suicida” e “Duna” para reconquistar o público e correr atrás da bilheteria perdida.

Agora, com a concorrência do streaming, o cenário ficou muito mais problemático. Segundo a Warner, os títulos serão disponibilizados na HBO Max por um mês. Em seguida, serão exclusivos dos cinemas por tempo indeterminado.

O estúdio justifica que, sem a medida, esses 17 longas ficariam na fila de espera indefinidamente —e os cinemas não teriam nada para exibir.

A estratégia, por enquanto, vale apenas para os Estados Unidos, mas decisões como essa podem respingar em outros territórios, e irão, certamente, facilitar a pirataria, fazendo com que os longas cheguem aos computadores brasileiros tão logo eles estreiem de forma legal nos americanos. Foi o que aconteceu com o blockbuster “Mulan”, lançado diretamente no Disney+.

O serviço, aliás, está no centro da controvérsia entre estúdios e exibidores há algum tempo, já que foi por lá que estrearam, ou vão estrear, outras apostas que os cinemas haviam feito para se reerguerem.

O terceiro cavaleiro do apocalipse é a Universal, que fechou acordo com as principais redes americanas para diminuir a janela de exibição —o período de exclusividade dos cinemas em relação a um filme— de 75 para 17 dias.

Sala de cinema na região central de São Paulo às vésperas do fechamento por causa da Covid-19
Sala de cinema na região central de São Paulo às vésperas do fechamento por causa da Covid-19 - Zanone Fraissat/Folhapress

Isoladas, as medidas podem parecer facilmente superáveis, principalmente se levado em conta que o plano da Warner, diz o estúdio, é uma exceção durante a pandemia. Mas juntas, diante do cenário de terra arrasada no qual o parque exibidor se encontra, elas apontam para uma nova lógica de mercado que pode se tornar padrão.

Isso não quer dizer que a experiência cinematográfica vai acabar. Ainda há um exército de gente que não abre mão dela e que vai voltar às salas assim que as vacinas saírem. O cinema, afinal, é uma experiência comunitária, que jamais será comparável ao sofá e à televisão de casa.

Prova disso é, quem diria, a Netflix, que adota a estratégia de lançar alguns de seus títulos em cinemas selecionados. É claro que por trás existe a ambição de chegar ao Oscar, que exige que seus indicados sejam exibidos nas salas.

Mas mesmo agora, que a premiação derrubou essa regra temporariamente para se adequar ao ano pandêmico, a gigante do streaming decidiu projetar “Mank”, de David Fincher, em alguns cinemas, antes de ele chegar à plataforma.

A relação do espectador com o cinema ainda é forte e as salas estão longe de serem pacientes terminais. A pandemia acelerou, sim, mudanças e crises que já estavam em curso no parque exibidor, e a decisão da Warner é sem dúvidas um agravante. Mas turbulências já pairavam sobre Hollywood há muito tempo.

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