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Artes Cênicas

Ilusão de que o teatro virtual é uma nova arte se esgotou na pandemia

Mês a mês, a quantidade de espetáculos que era suportável ver pela internet foi diminuindo até chegar ao vazio atual

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São Paulo

Talvez a maior evidência do enfraquecimento do teatro, ao longo deste primeiro ano de pandemia, tenha sido a suspensão por três anos das verbas do Programa de Ação Cultural, o ProAC, pelo governo paulista.

Houve mobilização nos últimos meses, mas sem resultado. Um ano atrás, ainda no início da pandemia, foi diferente.

A mesma mobilização se refletiu na aprovação da Lei Aldir Blanc, garantindo renda emergencial federal aos profissionais da cultura, permitindo atravessar longo período.

O que aconteceu entre aquele momento de vitória e o mais recente, de fracasso, foi que o teatro aos poucos se apagou.

Os esforços contínuos para que fosse substituído por lives e videoconferências exigiram boa vontade e condescendência do espectador regular a ponto de levar à aversão.

Mês a mês, a quantidade de espetáculos que era suportável ver pela internet foi diminuindo, até o vazio atual.

Também a ilusão inicial de que se estava criando uma nova arte, um híbrido de teatro, cinema e televisão, ficou pelo caminho, na exaustão do isolamento.

Seis meses atrás, entre uma onda e outra, chegaram a esboçar uma abertura, logo abortada.

E é o que se repete neste momento, com espasmos de retorno ao teatro —ao mesmo tempo em que os casos voltam a crescer em São Paulo e prenunciam uma terceira onda.

O quadro é de prostração, não só no Brasil.

Mas, na França, semanas atrás, profissionais e estudantes de palco chegaram ao limite e, em ato quase desesperado, tomaram cerca de cem teatros, inclusive históricos como o Théâtre de l'Odéon e o Théâtre de la Colline.

A pandemia não permitiu retomar de imediato as apresentações, mas os sinais de refluxo da segunda onda europeia se acumulam.

Algumas semanas à frente no calendário de vacinação, o Reino Unido promete reabrir com o marco previsto para a volta de "A Ratoeira", de Agatha Christie, no próximo dia 17 ao West End, o bairro do teatro comercial.

É sobretudo uma atração turística, que não poderá mais se vender como a peça há mais tempo em cartaz, continuamente, após um ano e três meses sem apresentações.

Com a chegada do verão no hemisfério norte, o retorno do teatro será mais simbólico, para acontecer, de fato, a partir de setembro e outubro.

É quando a Broadway pretende retomar os musicais, com casa cheia permitida.

São esses exemplos, além daqueles ainda mais avançados, na Ásia e na Oceania, que trazem alguma perspectiva de retomada do teatro também no Brasil, em algum momento.

Mas não se tem certeza do que vai acontecer, em nenhum dos três países, até porque a meta de imunidade de rebanho, a ser atingida com o número mágico de 70% de vacinados, vai sendo formalmente abandonada.

O paralelo histórico mais lembrado, desde o início da pandemia, é o da peste negra na Londres de Shakespeare, cujos teatros passaram sete anos entre idas e vindas, a partir de 1603.

Companhias desapareceram, atores mudaram de profissão, mas Shakespeare aproveitou para escrever sete peças, inclusive "Rei Lear" e "Macbeth".

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