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Renato Terra

Carlos Nader acompanha caminhoneiro por 20 anos em documentário

Itaú Cultural Play traz quatro filmes do cineasta, um dos mais originais do país, de graça

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Renato Terra

Roteirista do Conversa com Bial e diretor dos documentários 'Narciso em Férias', 'Eu Sou Carlos Imperial' e 'Uma Noite em 67'. Trabalhou na revista piauí até 2016 e foi o ghost-writer do 'Diário da Dilma'

Homem Comum

Em 1994, Carlos Nader teve uma ideia bem simples: iria a um posto de gasolina qualquer, pegar carona com um caminheiro qualquer. Começaria puxando um assunto qualquer para, de repente, engatar num papo metafísico. “Você não acha que a vida é absurda?” “Você não tem dúvidas se às vezes está sonhando ou se isso aqui que estamos vivendo é real?”

Cena do documentário 'Homem Comum', de Carlos Nader - divulgação

Em documentários, muitas vezes, a ideia inicial se transforma ao longo do processo. Foi o caso de Nader. As respostas dos caminhoneiros foram monossilábicas, desprovidas de qualquer traço de subjetividade. A maioria se contentou em responder “não”.

Nader, então, resolveu apostar em um personagem, Nilson de Paula, para encontrar outras maneiras de responder a essas perguntas. “Homem Comum” foi feito ao longo de 20 anos. Acompanha o envelhecimento de Nilson, a morte da sua mulher, o crescimento de sua filha, percorre os caminhos imprevisíveis que a vida sempre toma.

Mas faz isso de uma maneira muito original. Nader insere cenas da surreal ficção dinamarquesa “A Palavra”, de Carl Theodor Dreyer, de 1955, e costura uma montagem que, por contraste, vai conferindo novos significados a cada cena. A religiosidade, a passagem do tempo, a memória, o destino, o acaso, as relações familiares, os sentimentos que ficam guardados e a morte ficam entranhados, de forma indireta, em cada sequência.

Os atores Alex Rendall, Alix Wilton-Regan, Denise Stephenson e Frederick Roll em cena do filme 'Homem Comum', de Carlos Nader, originalmente parte de um remake do filme 'A Palavra' (1955), do dinamarquês Carl Theodor Dreyer - Reprodução

Passados 20 anos de filmagem, Nilson de Paula continuava sem formular uma frase que respondesse às inquietações de Carlos Nader. Mas não importa, pois o filme é preenchido com esse diálogo o tempo todo. Mesmo quando essa pergunta não é verbalizada.

“Além de relacionar palavras, fotogramas, planos, cenas, ‘Homem Comum’ estabelece‑se como um filme que é sempre constituído pela relação de dois outros filmes diferentes. Ao documentário sobre o passado de um caminhoneiro paranaense justapõe‑se um outro documentário sobre o seu futuro. À ordinária vida filmada desse caminhoneiro, interconecta‑se a teatralidade do grande clássico dinamarquês, 'Ordet' ['A Palavra'], de Carl Theodor Dreyer. Às cenas desse Ordet real, lindamente filmado em 1955, refletem‑se as de um 'Ordet' fake, novelesco, realizado em 2012 na Inglaterra”, explicou Carlos Nader num texto para o lançamento do DVD de “Homem Comum”.

Além de “Homem Comum”, o recém-inaugurado Itaú Cultural Play traz mais três filmes de Carlos Nader no catálogo: “Pan-Cinema Permanente”, que faz um retrato criativo do poeta Wally Salomão, “A Paixão de JL”, um ensaio poético a partir de fitas cassete gravadas pelo artista visual José Leonilson, e o sarcástico curta “Tela”.

Todos de graça. O Itaú Cultural Play não cobra assinatura, basta apenas fazer um cadastro simples.

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