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'Gossip Girl' volta com jovens ricos bonzinhos e sem segredos a revelar

Apesar de elenco bem mais diverso, primeiro episódio não se engaja com os escândalos que definiram primeira fase da série

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"Gossip Girl" está de volta. E mesmo sem Blair Waldorf planejando as intrigas do novo ano letivo e se entregando ao maxilar impecável de Chuck Bass logo no primeiro episódio, ouvir a mesma voz de Kristen Bell narrando os boatos traz de volta a atmosfera que enredou a audiência nos causos trash da elite jovem nova-iorquina no começo dos anos 2000.

Mas, a julgar pelo primeiro episódio do reboot, não parece que a Garota do Blog vai ter grandes segredos a revelar.

A nova queen do grupo de adolescentes, muito mais high-tech que a da última geração, é Julien, papel de Jordan Alexander, uma influenciadora que conta com as amigas Monet, vivida por Savannah Lee Smith, e Luna, papel de Zión Moreno, para fazer cliques no horário perfeito da iluminação natural.

Não é só o excesso de stories e mensagens de celular que mudaram na turma de 2021 —numa alteração esperada, e obrigatória, os personagens são muitos mais diversos.

As duas protagonistas, Julien e Zoya, papel de Whitney Peak, são negras. Max, interpretado por Thomas Doherty, que parece importar o trejeito garanhão de Chuck, beija homens e mulheres. Luna é uma mulher trans, e quase tudo se distancia da tela branca, heterossexual e cisgênero da turma da Queen B com muita naturalidade.

Outro sinal dos tempos é que essa geração foi atravessada por movimentos sociais emblemáticos, como o Black Lives Matter, o MeToo e o Occupy Wall Street —e passou até por uma distópica quarentena.

Obie, papel de Ellie Brown, expurga sua culpa de rica ajudando uma Aliança do Direito à Cidade, que orgulhosamente define como uma organização que tenta "parar o deslocamento de comunidades marginalizadas e de bairros históricos". Mesmo sendo uma influenciadora, Julien desativa as notificações das redes sociais para manter a saúde mental. Aki não bebe, e Audrey diz que ninguém mente um ao outro naquele grupo.

Esse novo padrão seria ótimo se a série se engajasse com o que faz de "Gossip Girl" a "Gossip Girl" —um editorial fashion ambulante e um barraco de estremecer as famílias mais ricas da cidade todo episódio. O primeiro está lá, com um guarda-roupa zennial super-rico cheio de Dior, Mugler e nomes mais novos, como LaQuan Smith.

Mas o segundo nem tanto. Na primeira fase da série, pairava o mistério de quem era a pessoa por trás do blog que postava os segredos dos personagens e que alimentava a disputa entre Blair, a rainha da escola Constance, e Serena, a it girl por excelência.

Agora, a falta de briga mesquinha é tanta que a Gossip Girl, adormecida por quase uma década, ressurge para tentar acabar com as retaliações dos alunos da escola contra os professores e precisa lidar com uma disputa entre adolescentes que nem sequer existe.

É uma discussão, inclusive, que poderia se aprofundar num reboot que acontece à luz de um uso excessivo das redes sociais como espelho do real e até guiar os dramas dessa nova geração.

Afinal, um perfil de fofoca que migrou de um blog para o Instagram e que fica caçando picuinhas de pessoas importantes para tentar alterar a realidade tem um apelo bem contemporâneo.

Ficaram para trás os arroubos fantasiosos de uma jovem rica que acaba se casando com um príncipe, de um jovem de 16 anos que publica na revista New Yorker, do mocinho pobre que, na verdade, mora num loft invejável com pé-direito duplo no Brooklyn e até do segredo de quem é a voz por trás do blog de fofoca.

Todos esses dramas da primeira geração pavimentaram o caminho para outros seriados adolescentes, como "Elite", da Netflix, que também funcionam sem pretensões de serem as mais grandiosas séries de seus tempos —e isso está longe de ser um demérito.

Mas, por enquanto, o que temos como grande escândalo da nova Gossip Girl envolve uma bolsa de estudos de uma meia-irmã rica para sua outra meia-irmã pobre.

E, sem a dúvida de quem é a Gossip Girl, informação entregue no primeiro episódio do reboot, esse enredo não parece ser suficiente para levar o público até os próximos capítulos da vida nem tão escandalosa da elite de Manhattan.

Gossip Girl

  • Onde Na HBO Max, com novos episódios toda semana
  • Elenco Kristen Bell, Evan Mock, Whitney Peak e Jordan Alexander
  • Produção EUA, 2021
  • Direção Joshua Safran
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