Descrição de chapéu

Tarcísio Meira seguiu outro rumo, mas se sentia em casa no palco

Ator foi dirigido por alguns dos maiores encenadores do país, de Ruggero Jacobbi a Flávio Rangel, passando por Zé Celso

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Diferentemente de colegas como Sérgio Cardoso, Tarcísio Meira —morto aos 85 anos nesta quinta, em decorrência da Covid-19— não era questionado por se dedicar às telenovelas, em vez do palco, como ele mesmo dizia.

Mal havia começado no teatro quando se celebrizou no primeiro folhetim diário brasileiro, "2-5499 Ocupado", de 1963, na Excelsior. E a partir daí retornou eventualmente, saindo mais da televisão para o cinema.

Depois de um intervalo de duas décadas, reapareceu no palco seis anos atrás em "O Camareiro", que também produziu, e foi possível confirmar que o fascínio que sua atuação, sorriso e presença de 1,85 metro causava nas novelas se mantinha, ao vivo.

Sérgio Cardoso, então e até hoje dado por muitos como o maior ator brasileiro, foi referência importante para ele.

Meira estreou em meados dos anos 1950 em peças como "Quando as Paredes Falam", em substituição de papel pequeno, mas ganhou projeção em "Soldado Tanaka", no teatro Bela Vista de Cardoso, que o dirigiu e com quem dividiu a cena, fazendo um soldado japonês.

cena de peça teatral
Tarcísio Meira e Sérgio Cardoso em cena da peça 'O Soldado Tanaka', de Georg Kaiser, apresentada no teatro Bela Vista em 1959 - Arquivo pessoal da família de Sérgio Cardoso/Reprodução

"Foi em dezembro de 1959. Eu era muito jovem, e o personagem era muito forte, muito duro, rascante, metálico. Era uma grande responsabilidade. Sérgio Cardoso era o ícone do teatro brasileiro", lembrou, em depoimento ao projeto de memória da Globo.

Nas décadas seguintes, voltaria ao palco de maneira inusitada, em espetáculos como "Toda Donzela Tem um Pai que É uma Fera", no Teatro Oficina. "Depois do golpe de 1964, a gente resolveu montar uma comédia e chamou o Tarcísio", diz Zé Celso. "Fez muito sucesso. Ele fazia muito bem, era um galã maravilhoso. Deu dinheiro para muita gente se esconder, tanto do Oficina quanto do Arena."

O diretor Benedito Corsi não conseguia resolver a peça e dias antes da estreia, conta Zé Celso, "foram me buscar onde eu estava escondido, e passei um dia e uma madrugada inteira consertando".

Do italiano Ruggero Jacobbi a Flávio Rangel, Meira foi dirigido por alguns dos mais representativos encenadores do país.

Em "O Camareiro", que estreou em 2015 e voltou ao cartaz seguidamente até o início do ano passado, quando chegou a pandemia, fez o papel de um ator consagrado do teatro britânico, em fim de carreira, sob direção de Ulysses Cruz.

Não era propriamente um personagem para ele, que não marcou o teatro com grandes atuações shakespearianas de Otelo ou, como retratado na peça, Lear.

Mas ao mesmo tempo parecia não haver intérprete mais adequado, dada sua característica de ator-rei, na velha classificação dos elencos de teatro —que era usada por Orson Welles, por exemplo, para descrever a si mesmo.

A voz, o porte, a empatia eram marcantes. Era possível acompanhar a sua angústia de ator em decadência física, crescente prostração, até reagir e se transformar no rei Lear. "O Camareiro" foi uma celebração do teatro, por um ator que seguiu outro rumo na carreira, mas se sentia em casa no palco.

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