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Renato Terra

Charlotte Rampling brilha em '45 Anos', que reflete as dores da perda

Filme de Andrew Haigh traz temáticas como luto, envelhecimento, memória e passagem do tempo

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45 anos

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  • Direção Andrew Haigh

Era para ser uma celebração de 45 anos do casamento de Kate, papel de Charlotte Rampling, e Geoff, vivido por Tom Courtenay. Mas ao abrir uma correspondência, Geoff descobre que o corpo de Katia, uma antiga ex-namorada, foi encontrado. Ela morreu num acidente nos Alpes suíços décadas atrás, antes do relacionamento com Kate.

O corpo da ex-namorada ficou congelado por todos esses anos. É uma metáfora clara de um amor que ficou intacto, parado no tempo. A memória desse amor se mistura às lembranças de quando Geoff era jovem, cheio de sonhos compartilhados com Katia. Tudo isso provoca um sentimento tão intenso que acaba transbordando. Geoff revela segredos adormecidos que põem em dúvida seus sentimentos por Kate.

Um homem sentado e uma mulher em pé o observando
Cena do filme '45 anos', de Andrew Haigh - Reprodução

A partir dessa premissa, o diretor Andrew Haigh consegue construir situações magníficas. Em todos os diálogos, o que não é dito passa a ter mais relevância. E se soma ao que não foi dito durante os 45 anos em que Geoff e Kate estiveram casados. Em cada cena, fica claro o que Kate está pensando, mas não consegue verbalizar.

Numa entrevista para o canal de TV Film4, Charlotte Rampling falou que "45 Anos" é "uma jornada muito pessoal dentro da mente, dentro do seu mundo emocional".

Em 2018, o filme encerrou o segundo módulo do Ciclo de Cinema e Psicanálise promovido por este jornal. "O grande brilho da teoria psicanalítica é mostrar que o desenvolvimento acontece quando se elaboram as perdas. Há mil subterfúgios para a gente não enfrentar a dor, mas é com ela que se ganha autonomia", disse a psicanalista Edoarda Paron.

Além das reflexões sobre o luto, o envelhecimento, a memória, as perdas não elaboradas e a passagem do tempo, "45 Anos" tem qualidades cinematográficas.

"Você coloca os personagens numa casa cuja decoração reforça o longo tempo que eles estão casados. E você faz pequenas coisas que evidenciam os hábitos de um casal que está junto há muito tempo, como o lugar em que ele senta na mesa e a repetição de eventos corriqueiros", explicou Andrew Haigh para o Film4.

O filme "45 Anos" consegue ser delicado e contundente. Toda a atmosfera criada pelo diretor Andrew Haigh vai construindo um sentimento de ausência que vai crescendo ao longo da trama até a brilhante cena final. É ali que a atuação espetacular de Charlotte Rampling não vai sair da sua memória tão cedo.

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