Dicionário francês adota pronome neutro, que designa pessoas não binárias

Atitude da publicação Le Robert, uma das principais referências da língua europeia, gerou intenso debate no país

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Geert De Clercq
Reuters

O dicionário francês Le Robert adicionou, em sua edição online, o pronome "iel" para designar pessoas não binárias. A atitude gerou intenso debate na imprensa francesa, com muitas figuras políticas se posicionando a respeito dessa discussão. O termo é formado a partir a junção dos pronomes pessoais masculino e feminino —"il" e "elle", em francês.

Dicionário Aurélio - Fabio Braga/Folhapress

Le Robert, um dos principais dicionários da França, afirmou em nota nesta quarta (17) que há algumas semanas adicionou o pronome na sua lista de palavras após seus pesquisadores terem observado um crescente uso do termo em meses recentes.

Em português, há pronomes neutros como "ile" e "dile" ou "elu" e "delu", ainda não dicionarizados e pouco usados no contexto cotidiano. Apesar disso, seu uso é mais frequente nas redes sociais, principalmente entre ativistas transgênero, e se espalha em produções da indústria do entretenimento.

Dua Saleh interpreta Cal, uma personagem não binária, na 3ª temporada de 'Sex Education'
Dua Saleh interpreta Cal, uma personagem não binária, na 3ª temporada de 'Sex Education' - Sam Taylor/Netflix

Na língua inglesa, o termo correpondente é o pronome "they", usado para se referir a pessoas que não se identificam com os gêneros masculino e feminino. Muitas figuras públicas —a exemplo da vice-presidete americana Kamala Harris— especificam nas redes sociais os pronomes pessoais pelos quais elas preferem ser chamadas, mostrando solidariedade às pessoas não binárias.

O governo francês já se mostrou contra a ideia, e o ministro da Educação resistiu a tentativas de incorporar a lingugem inclusiva no currículo escolar.

"A escrita inclusiva não é o futuro da língua francesa", disse o ministro Jean-Michel Blanquet através de sua conta no Twitter, acrescentando que ele apoia o prostesto do parlamentar François Jolivet contra a ação do Le Robert.

Numa carta à Academia Farancesa, instituição que dempenha a função de guardiã da língua, Jolivet escreveu que a introdução das palavras "iel", "ielle", "iels" e "ielles" é precursora da ideologia "lacradora", que destruiriam os valores da cultura francesa.

"A campanha solitária do Le Robert é uma intromissão ideológica que mina nossa linguagem... Esse tipo de iniciativa mancha nossa língua e mais divide seus usuários do que os une", ele escreveu.

Charles Bimbenet, diretor do Le Robert, disse que dicionários incluem muitas palavras que refletem ideias ou tendências sem necessariamente subscrevê-las; e que, uma vez que a palavra "iel" é cada vez mais usada, é últil incluir o verbete.

"A missão do Robert é observar a evolução de uma língua francesa diversa e reportá-la. Definir as palavras que descrevem o mundo nos ajuda a compreendê-lo melhor", ele escreveu.

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