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Coleção Folha traz obra de Santo Agostinho que condena o ato de mentir

Filósofo do Império Romano se debruça sobre a Bíblia para demonstrar que nada lá justifica não dizer a verdade

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São Paulo

Numa época em que se fala muito em "fake news", a Coleção Folha Os Pensadores publica uma veemente condenação do ato de mentir, por um dos mais importantes filósofos e teólogos cristãos. "Da Mentira", de Santo Agostinho, em tradução de Alessandro Jocelito Beccari, é o oitavo volume da coleção.

Aurélio Agostinho (354-430) nasceu na Numídia, província africana do Império Romano, na cidade de Tagaste —sobre cujas ruínas foi edificada a atual Souk Ahras, na Argélia. Venerado por toda a cristandade, teve uma vida laica bastante movimentada até se converter em 386, tornando-se sacerdote e bispo de Hipona (atual Annaba, também em solo argelino).


Suas "Confissões", em que ele conta sua trajetória pessoal antes de se converter ao cristianismo, costumam ser estudadas não apenas como obra filosófica e teológica, mas também literária —a obra é considerada pioneira em um gênero que se tornou popular até hoje, a autobiografia. Outro livro célebre de Santo Agostinho é "A Cidade de Deus" —tido como a leitura preferida de Carlos Magno (742-814), imperador dos francos.
capa de livro
'Sobre a Mentira', texto de Santo Agostinho com tradução de Alessandro Jocelito Beccari, é oitavo volume da Coleção Folha - Os Pensadores - Reprodução

No fim da vida, Santo Agostinho passou em revista seus escritos, em uma obra em dois volumes chamada "Retratamentos". O último livro citado no final do primeiro tomo de "Retratamentos" é justamente "Da Mentira". Como o segundo volume trata apenas de itens redigidos após sua ordenação como bispo, costuma-se deduzir que "Da Mentira" deve ser do ano de 395, pouco antes de Santo Agostinho chegar a este posto.

Lidando com a natureza da mentira, ele se debruça sobre a Bíblia para demonstrar que nada lá justifica o ato de mentir, em hipótese alguma, quer no Antigo, quer no Novo Testamento.

Ao definir a mentira, ele afirma que "é a partir da opinião de sua mente, e não das próprias coisas, que deve ser julgada a verdade ou a falsidade daquele que está mentindo ou não". Assim, "a culpa do mentiroso é o desejo de mentir enunciado em sua própria alma".

A partir daí, Santo Agostinho põe-se a classificar a mentira, identificando nada menos do que oito tipos. E enumera: "O pecado a ser mais evitado e do qual se deve fugir mais longe é aquele que se faz contra a doutrina da religião; ninguém dever ser conduzido a esse pecado, sob nenhuma condição", escreve.

"O segundo é aquele em que alguém é prejudicado injustamente: ninguém tira vantagem disso e alguém é prejudicado. O terceiro é aquele em que alguém é beneficiado, de tal forma que outra pessoa é prejudicada, embora não se trate de imundícia corporal. O quarto é aquele em que se mente pelo prazer de enganar, que é a mentira pura e simples. O quinto tipo é o da mentira que se diz para agradar, com uma conversa aprazível".

A classificação prossegue: "rejeitados e afastados inteiramente esses cinco tipos de mentira, segue-se um sexto, que não prejudica ninguém e beneficia alguém: um ladrão quer tirar injustamente o dinheiro de uma pessoa, sabemos onde está o valor, mas mentimos e dizemos que não o sabemos, não importando quem seja o interrogante. O sétimo tipo é aquele que não prejudica ninguém e beneficia alguém, exceto se somos interrogados por um juiz: mente-se porque não se quer atraiçoar uma pessoa que está sendo procurada para ser morta, seja ela réu, seja ela justa ou inocente, porque a disciplina cristã ensina que não se desespere da correção, nem se feche a porta da penitência para ninguém".

Fecha a lista "o oitavo tipo de mentira é aquele que não prejudica ninguém e pode ser benéfico, pois protege da imundícia corporal".

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