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'Roberto Carlos: Outra Vez' é catatau acessível e muito bem encadeado

Força do livro reside nas análises de Paulo Cesar de Araújo, que se debruçou sobre cerca de 240 canções do cantor

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Roberto Carlos: Outra Vez – Volume 1 (1941-1970)

  • Onde Editora
  • Preço R$ 94,90 (928 págs.); R$ 52,90 (e-book)
  • Autoria Paulo Cesar de Araújo
  • Editora Record

É inegável que Paulo Cesar de Araújo conseguiu uma façanha. Ele transformou um livro de 928 páginas numa leitura ágil, leve. Mas, para chegar a uma obra tão acessível, precisou construir um complicado quebra-cabeças.

As peças do jogo são músicas e episódios da vida de Roberto Carlos. Não é necessário avaliar o conhecimento do autor sobre o tema. Só alguém com tamanha familiaridade com vida e obra do cantor poderia elaborar capítulos que ligam uma determinada canção de seu repertório a fatos que ele viveu.

"Roberto Carlos: Outra Vez - Vol. 1 (1941-1970)" é uma espécie de ampliação desconstruída da primeira biografia escrita pelo historiador e professor baiano, "Roberto Carlos em Detalhes", lançada em 2006. Na época, ele foi processado pelo biografado, que conseguiu a retirada dos exemplares das livrarias.

O caso repercutiu durante anos, relatado por Araújo em "O Réu e o Rei: Minha História com Roberto Carlos, em Detalhes", lançado em 2014. No ano seguinte, o Supremo Tribunal Federal liberou a publicação de biografias não autorizadas no mercado brasileiro. Depois de tanta discussão, essa primeira biografia chega hoje a ser vendida por R$ 500 nos sebos.

Nos 50 capítulos do novo livro, cada um tendo como título o nome de uma canção de Roberto, os episódios de sua vida vão e voltam no tempo, quebrando a estrutura linear que normalmente rege os livros do gênero.

Mesmo sem a guia temporal, parece que nada fica de fora nessa primeira fase da vida de Roberto. Em comparação com o primeiro livro, são muitas informações a mais, com inúmeras passagens adicionadas e minúcias daquilo que Araújo havia escrito. O texto agradável do autor já tinha sido revelado antes dessa imersão em Roberto, quando analisou a música brega durante o regime militar em "Eu Não Sou Cachorro Não", de 2002.

Sem as amarras cronológicas, o autor abriu o livro com o episódio mais comentado da vida do ídolo, o acidente em que ele perdeu parte da perna direita aos seis anos. O relato do atropelamento do menino por um trem vem recheado de mais depoimentos e está no capítulo chamado "O Divã", canção de 1972. A escolha já deixa claro que as músicas incluídas nesse primeiro livro não foram necessariamente lançadas até 1970, mas sim os acontecimentos que o autor consegue habilmente relacionar a cada uma.

Não existe exatamente um grande fato que permaneceu obscuro na vida de Roberto sendo revelado na obra. Provavelmente, é ao relatar os shows de Roberto ainda pré-adolescente por cidades do interior que esteja concentrado muito material inédito.

E é incrível ler, ao lado de histórias mais conhecidas como o acidente ou as tretas com Tim Maia, muitas informações sobre as gravações dos discos de Roberto, que nunca vinham acompanhados de fichas técnicas, o que atiçava a curiosidade de quem se liga mais na música do que na figura do ídolo. Boa parte da força do livro está nas análises de Araújo, que se debruçou sobre os dez álbuns e cerca de 240 canções que Roberto gravou de 1959 a 1970.

Para um público mais jovem pode causar surpresa um Roberto Carlos ainda adolescente querendo ser cantor de bossa nova, antes de incluir em sua fórmula musical a canção brasileira, o rock, o soul e outros gêneros.

Quanto à vida pessoal, podem já ser conhecidos de um público mais maduro os relacionamentos amorosos, os bastidores de programas de TV e da gravação de seus filmes no cinema, além de casos como Roberto dando tiros para o alto para impedir o avanço de agressores —sim, ele andava armado. Não são novidade para quem assistia a suas participações na TV e lia a revista Melodias, verdadeira bíblia de música, rádio e TV nos anos 1960.

Assim, o formato surpreende mais do que o conteúdo nessa investida de Araújo. Ao elaborar os capítulos sem progressão cronológica, ele cria praticamente textos autônomos, que distraem o leitor com começo, meio e fim. Da mesma forma como ele vai e volta no tempo, o leitor também pode optar por não seguir a ordem dos capítulos.

Fica a curiosidade para a segunda parte da obra, que deve ser lançada no ano que vem. Afinal, é na fase mais madura de Roberto que sua reclusão ganhou um tom obsessivo. Pouco se sabe do cotidiano do cantor, que escolheu se expor só nos especiais de fim de ano da Globo e nas atuais temporadas de shows em transatlânticos ou hotéis.

Se Araújo tiver mais informações sobre os últimos anos do biografado na mesma intensidade com a qual avançou suas pesquisas na juventude de Roberto, certamente o volume dois será tão atraente para fãs e curiosos quanto este primeiro.

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