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'O Beco do Pesadelo' tem elenco rico e Del Toro de volta à sua boa forma

Filme do cineasta mexicano é estrelado por Bradley Cooper e Cate Blanchett, mas esta não está à altura de seu talento

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O Beco do Pesadelo

  • Quando Estreia nesta quinta (27), nos cinemas
  • Classificação 16 anos
  • Elenco Bradley Cooper, Rooney Mara e Cate Blanchett
  • Produção EUA/México, 2021
  • Direção Guillermo del Toro

Se houvesse um único valor em "O Beco do Pesadelo", novo filme de Guillermo del Toro, seria o de captar o mal-estar específico dos anos 2020, causado por uma série de fatores —governos de extrema direita, aumento do desemprego e, consequentemente, o arrivismo, a pandemia e seu reflexo, o negacionismo, clima em colapso, entre outros problemas.

Não é uma exclusividade desta versão. O próprio livro no qual o filme se baseia, escrito por William Lindsay Gresham e publicado em 1946, foi amplamente classificado como um romance niilista e, assim como sua primeira adaptação cinematográfica, "O Beco das Almas Perdidas", lançada em 1947 e dirigida por Edmund Goulding, representava os temores da época.

Rooney Mara e Bradley Cooper no filme 'O Beco do Pesadelo' - Divulgação

Filmado no auge do ciclo noir dos anos 1940 e protagonizado por um sublime Tyrone Power, o filme de 1947 teve um final postiço que apresenta uma saída ao personagem, acrescentado porque o produtor, Darryl Zanuck, não queria ter um desfecho tão negativo e sem esperança em um filme do estúdio —no caso, a 20th Century Fox.

Nestes tempos distópicos, a Disney, império do entretenimento que comprou a Fox e é normalmente associada a uma infantilização do cinema, propõe esta adaptação mais respeitosa ao livro de Gresham, preservando o niilismo da história original e incitando Bradley Cooper a um de seus desempenhos mais soturnos.

Cooper é Stanton Carlisle, um homem ambicioso e cheio de culpas que vai parar num parque de diversão. Ao ver o terrível homem selvagem arrancar a cabeça de uma galinha viva, sai sem pagar, atraindo a atenção do gerente do local, um homem curioso vivido por Willem Dafoe. Ele passa então a servir como um trabalhador para toda obra, de carregador a domador do selvagem.

Ele se envolve, no processo, com uma leitora de tarô chamada Zeena, interpretada por Toni Collette, e com seu marido alcoólatra Pete, vivido por David Strathairn. Mas se envolve também com a única personagem inocente de toda a trama, a jovem Molly, que ganha uma caracterização bem digna de Rooney Mara. Esta, com 36 anos, poderia parecer velha para o papel.

Depois de descobrir um código que permite a adivinhação de perguntas feitas pela plateia, e cheio de culpa pela morte —meio acidental, meio provocada— de Pete, Stanton parte com Molly, a quem vinha seduzindo, para Chicago, onde vai tentar ganhar dinheiro com os truques aprendidos no parque.

Mas descobre um outro filão —se fingir de médium para dar conforto a pessoas da alta sociedade. E então conhece a psicanalista Lilith, personagem que tem o corpo e a voz, mas não todo o talento, convenhamos, de Cate Blanchett. Esse encontro será sua perdição.

Além do elenco riquíssimo, que ainda conta com Richard Jenkins, Mary Steenburgen e Ron Perlman, podemos destacar a ambientação sombria que Del Toro alcança com algum mérito. O filme noir já teve diversas manifestações modernas e melhores nos últimos 50 anos. Só na chamada nova Hollywood podemos apontar diversas releituras do subgênero. Mas nenhuma foi tão forte em radiografar o mal-estar do mundo e a falência moral de uma sociedade como "O Beco do Pesadelo".

O filme nos envolve num território sujo, de ganância e corrupção de valores, em que até a psicanálise, num momento, o imediato pós-guerra da narrativa, em que tal ciência vivia seu auge, podia ser destruída pela ambição.

Cate Blanchett, nesse sentido, representa uma limitação. Sua personagem, Lilith, é fundamental para a danação do protagonista. Mas a atriz não tem uma interpretação à altura de seu talento e do que a personagem pede. No filme de 1947, Helen Walker brilhava, tanto na representação do lado dama de Lilith, quanto do lado vigarista. Por causa dela, o filme funcionava muito bem na parte final.

O beco que Del Toro nos propõe parece menos sedutor, e por isso o pesadelo de Stan Carlisle parece tão postiço quanto o final inventado por Zanuck para a versão antiga. Ainda assim, pela atmosfera construída com algum esmero e muitas sombras, é um retorno à boa forma.

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